SANGUE DO MEU SANGUE...
Isso do Dakar, Camel Trophy e outras paneleirices é coisa de meninos. Aventura em estado puro é arriscar uma incursão no centro Vasco da Gama num feriado, a meia dúzia de dias do Natal. Isso sim, é para homens de barba rija.
Pois é, tive a imbecil ideia de combinar um mitingue com os meus primos nessa bendita superfície comercial. Por razões que vão compreender mais à frente, vou-me abster de revelar os seus nomes.
O grupo excursionista estava atrasado, pelo que resolvi ir ao Continente comprar qualquer coisa para comer. Até nem havia fila (pasme-se!!) pelo que foi trigo limpo. Aprochego-me da caixa e quem me calha na "menos de 15 unidades" é um jovem aí para os sub-20, a quem a acne atacou sem dó nem piedade.
O (surreal) diálogo segue dentro de momentos. Espera...o surreal monólogo segue dentro de momentos:
(caixa maltratado pela acne) - "Vai desejar saco?"
(eu ) - "Não, obrigado."
(caixa maltratado pela acne) - "Isto hoje está cheio de gajas boas!! Esteve aí uma escola, era só modelos! Tão boas!! E um gajo que não pode sair daqui!!
(eu ) - "Pois...Então...boa sorte..."
E foi assim, sem tirar nem pôr. Não vale a pena inventar histórias e teorias para alimentar o blogue: basta sair à rua.
Mas o dia ainda estava longe de acabar. Ainda a digerir o insólito episódio, dirijo-me para o local combinado para o enternecedor encontro familiar. Sei de antemão que o meu primo "X" vem acompanhado da sua nova aquisição. Descobri depois que o termo "aquisição" não estava muito da verdade...
Vejo-os aproximar lentamente, como nos filmes americanos. À frente dos dois vinha uma jovem que dava ares de alternadeira, um ou dois metros mais adiante. Dava ares, não: dava aí um ciclone tropical anónimo, três "El Niño" e meia dúzia de "Katrinas", pelo menos. Nem liguei.
Estabeleço então contacto visual com a famíliam, que prontamente estuga o passo na minha direcção. Segue-se o rosário de ternuras e mimos entre familiares de longa data:
-Olha, o cabrão do "X"!!
- Eis se não é o paneleiro do "Y"!!
E por aí fora. Paremos por aqui antes que comece a choramingar.
Chega então o momento da verdade. Eu procuro pela suposta nova aquisição do primo "X", mas à minha frente só está a tal jovem mencionada em cima. Não, não podia ser...Qualquer coisa me estava a escapar, com certeza.
"-Ah..." , diz o primo "X","...esta é a "Z"...
Bingo. Nem mais. Era ela, "a tal". Não vou dizer "The One", porque isso já seria atentado ao pudor. O putanheiro do meu primo andava então a "sair" com uma jovem que conhecera num bar da especialidade.
Fomos jantar, os quatro, ali para as bandas do Parque das Nações. O restaurante, brasileiro, para que a nossa cara conviva se sintisse em casa.
Eu que até sou um indivíduo particularmente sensível e compreensivo com a típica "conversa de gaja", fiquei particularmente deleitado com a palestra da jovem sobre astrologia. Feitas as contas era aquariana, e há muita coisa para dizer sobre os aquarianos. Muita, e extremamente interessante.
Quando os "pombinhos" se ausentaram para lavar as mãos (espero que tenha sido mesmo para isso) inquiri o restante interlocutor sobre a natureza curiosa daquela bonita relação.
"-Sim, conheceu-a num bar de alterne", confirmou-me sacudindo os ombros.
"Fofinha" para aqui, "Fofinha" para ali. E um "caralho" ocasional, para temperar. Que não faz senão mal para apimentar uma amena cavaqueira. Quando a jovem se ausentou para ir aos lavabos, o "Fofinha" transformou-se num sonoro "esta puta" enquanto o diabo esfrega um olho. A extraordinária metamorfose aconteceu mais uma vez: "Então, Fofinha", demoraste tanto...?"
Durante o jantar a jovem atende para cima de meia dúzia de chamadas. Curiosamente, todas de homens. O meu primo pagou o jantar à rapariga, claro está. E segundo me foi dado a conhecer, o mesmo tem acontecido com grande frequência.
Menos mal: a picanha estava uma maravilha.
Já de regresso ao carro, o telemóvel da jovem tocou mais uma ver. Pasme-se, era outro gajo...!!! O meu primo passeava então a rosa que oferecera, prova do seu romantismo inquestionável. Os seguintes 20 minutos foram algo de particularmente delicioso: o meu primo ponderava as várias possíveis utilizações a dar ao "caralho da rosa", enquanto a sua "amada" ia animadamente dando música ao telefone.
Eu lá fui para o parque buscar o carro, e sei que a chamada continuou. Até quando, não sei. E pronto, foi assim que passei uma parte do feriado. Religioso, por sinal.
sábado, dezembro 10, 2005
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