007: License to Clip
Chateia-me à brava ver o detective
Horatio Caine no CSI. O senhor resolve todos os crimes ao tirar os
óculos escuros e faz questão de nunca afiambrar nenhuma das miúdas
giras que apanha. No fim de cada episódio faz aquele discurso moralista
de que o crime não compensa. Pelo menos não o compensa a ele, grande
parvalhão. Só falta dar uma palmada no rabo de um dos rapazes da equipa,
dizendo “Vá, vamos para casa, grandalhão. Deixa lá ver se te consigo
embebedar para comemorarmos esta vitória como deve ser”. Enfim,
lamentável.
Por isso é que sempre fui fã do James
Bond, um homem à séria, sempre prontinho a misturar negócios e prazer. E
o agente secreto português, como seria ele? Foi pois com grande
expectativa que acompanhei o caso das secretas, estava a salivar por
saber tudo sobre a realidade portuguesa.
A imagem que tinha do passado da
espionagem em Portugal era a do luxo e o romantismo da Cascais e
Estorilem plena Segunda GuerraMundial. Toda uma atmosfera de glamour
no bar do Casino, trocas de olhares sedutores no meio de uma nuvem de
tabaco, ao som de um piano de cauda. Uma coisa com pinta. Mas os tempos
mudaram e eu estava à espera que o espião português tivesse um arsenal
de gadgets à “007”, lasers disparados de botões de punho, raios
de invisibilidade ou mesmo uma panela de pressão miniaturizada para
fazer um cozidinho à portuguesa sem chamar a atenção dos guardas. Ora,
que técnica seria adoptada por Silva Carvalho, o mais famoso espião
português? O clipping, nem mais. O clipping consiste
basicamente em gravar o conteúdos de sites da Internet e fazer recortes
de jornais e revistas, sendo que esta segunda variante só está ao
alcance de operacionais mais especializados, com jeito para os trabalhos
manuais. Esta vertente mais tradicional e aparentada à collage
é praticada por adolescentes em Portugal desde a chegada da revista
“Bravo” até aos nossos dias. As jovens dedicam-se a encaixar
meticulosamente a cara das suas estrelas preferidas em tudo quanto é
caderno e dossiê e devo dizer que aquilo tem alguma ciência. Outra
vertente do clipping é a praticada pelos serial killers. Qualquer serial killer
que se preze tem sempre uma parede da casa forrada com uma colecção
muito organizadinha com recortes de jornais em que aparece a futura
vítima, tudo sublinhado com marcadores fluorescentes e arrumado por
datas, o que prova que são pessoas muito metódicas e organizadas. Lá por
um indivíduo gostar de dançar em cima das entranhas de outro, não quer
dizer que tenha de ser desmazelado.
Tudo isto para salientar que o recurso ao clipping
por parte de Silva Carvalho só abona a seu favor, sugerindo que se
trata de uma pessoa extremamente metódica. Para mim, que estou habituado
a ver praticar o clipping das unhas nos comboios da linha de
Sintra, esta vertente é um refrescante salto civilizacional. O leitor
poderia assumir, com alguma legitimidade, que este texto se dedicaria a
gozar com a figura de Silva Carvalho e da respectiva barraca que
rebentou em torno das secretas portuguesas. Puro engano. Isto é, eu
estava realmente a pensar fazer pouco da situação, mas isso foi só até
ter lido que o senhor, conhecido como “Tarzan Taborda das secretas”,
pesa a simpática quantia de 100 kgs, mede 1,90 metros e é um apaixonado
pelas artes marciais. A liberdade de expressão é uma coisa que é para se
usar, mas com jeitinho. Sou parvo, mas não sou estúpido.
Em primeiro lugar, a questão do
perfil público no Facebook. O senhor utiliza a página pessoal do
facebook para falar da família e fazer reflexões filosóficas sobre a
vida, tendo sido gozado pelas referências ao “Panda do Kung Fu”. Acho
mal, pois estes filmes de desenhos animados transmitem preciosas lições
de vida sobre coragem e amizade, que é importante e recomendável
partilhar com o mundo. Na verdade, ainda hoje não consigo conter uma
lágrimazita sempre que ouço os primeiros acordes de “Hakuna Matata”.
Por outro lado, o pormenor pouco
relevante de ter sido apanhado com centenas de SMScom informação
sensível. Estou solidário, porque uma vez perdi um telemóvel onde tinha
gravado uns vídeos caseiros com animais, e fiquei revoltado por ninguém
ter acreditado que eram clips promocionais para entregar à União
Zoófila.
Uma questão que me preocupou bastante
foi o facto de Silva Carvalho guardar ficheiros detalhados com a
orientação sexual de muita gente. Fiquei aflito, pois se vier a público a
minha heterossexualidade, ainda para mais profundamente enraizada, bem
posso dizer adeus à minha carreira no meio artístico.
Para terminar deixo alguns conselhos para todos os portugueses que estejam a pensar enveredar pela carreira de agente secreto:
- Tirem o curso de encriptação de dados
da Planeta Agostini, que explica detalhadamente como cifrar mensagens
através da técnica da escrita com “x”, para ninguém conxeguir dexifrar o
voxo código xecreto
- Tenham sempre à mão uma pen USB, pois
dá um jeitão para roubar informação à pressa de um computador,
permitindo igualmente guardar fotos das férias com a sogra em Armação de
Pêra
- Não colocar na porta do frigorífico listagens de agentes duplos, ao lado das mercearias em falta
Se seguirem estas dicas, vai tudo correr bem.
www.facebook.com/aristocratas)
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