domingo, janeiro 30, 2005

TIRO NO PÉ

Foi com grande espanto que vi um dos últimos outdoors do PSD, mostrando o Primeiro-Ministro com o fato-macaco de presidente do partido. Ao lado do cavalheiro, os seguintes dizeres:

"Este sim, sabe quem é!"

Pois, o problema é que a malta sabe mesmo. Ainda assim, escusavam de se dar ao trabalho de o relembrar. Não havia necessidade, como diria o saudoso Diácono Remédios.

sábado, janeiro 22, 2005

Dos ratos, da peste e da ciência moderna…

Tenho andado entretido com os livros que me ofereceram no Natal, fiéis companheiros na minha diária peregrinação Mem Martins-Entrecampos-Anjos-e-volta-pelo-mesmo-caminho. Todos eles "best seller", fábulas em volta de supostos segredos do Vaticano, conspirações, sociedades secretas e a vida sexual do Alexandre Frota*. Enfim, o trivial, não é verdade?
Pois bem, depois de despachar o "Código da Vinci" resolvi então passar ao segundo round: "Imprimatur - O Segredo do Papa". A coisa passa-se na Itália (ou projecto dela) de 1683, numa simpática estalagem onde anda tudo a morrer de peste, veneno, doenças venéreas, etc. Depois de soar o pretenso alarme da peste, a bófia local (os homens do bargello) tratou rapidamente de emparedar os pensioneiros até a coisa acalmar. Que é como quem diz, morram todos aí dentro, que não fazem falta nenhuma cá fora. E por cá ainda se queixam da prisão preventiva, vá-se lá saber...
Entre as pitorescas personagens da pensão, o diálogo que vou passar a citar tem lugar entre Cristofano (o médico de Siena) e o estalajadeiro-aprendiz, um jovem que tem o sonho de vir a ser gazeteiro e como bónus, comer desalmadamente Cloridia, a cortesã (ou a puta lá do sítio, se preferirem) que foi apanhada no meio da trama. Depois de avistarem uma miríade de ratos mortos esvaídos em sangue no chão, o médico exibe com doçura paternal toda a sua irrefutável sapiência nos seguintes termos:

"(...) - Meu pobre rapaz, os ratos são os primeiros empestados. Hipócrates recomendava que não se lhes tocasse e do mesmo parecer foram Aristóteles, Plínio e Avicena. O geógrafo Estrabão refere que, no período romano, era bem conhecido o funesto significado do aparecimento nas ruas de ratos doentes, antecipando uma epidemia, e recorda que em Itália e Espanha eram dados prémios a quem matasse o maior número. No Antigo Testamento, os Filisteus, atormentados por um ferocíssima pestilência que afligia as partes traseiras, fazendo sair pelo ânus os intestinos putrefactos, notaram que os campos e as aldeias tinham sido invadidos por ratos. Interrogaram, então, os adivinhos e os sacerdotes, que responderam que os ratos tinham devastado a terra e era necessário ofertar ao Deus de Israel, para lhe placar o desprezo, um ex-voto com o desenho de ânus e de ratos. O próprio Apolo, divindade que causava a peste, quando se sentia irada e que atirava quando se acalmava, era chamado na Grécia, Esminteu, ou seja, matador de ratos. E, com efeito, na Ilíada, é Apolo Esminteu quem trucida com a peste os Aqueus que sitiam Tróia. E também Esculápio, durante as epidemias de peste, era represntado com um rato morto a seus pés.
- Mas, então os ratos provocam a peste! - exclamei pensando horrorizado nos ratos mortos que tinha visto na noite anterior nos subterrâneos.
- Calma rapaz. Não foi isso que eu disse. Aquilo que te acabo de expôr são apenas convicções dos antigos. Felizmente, estamos em 1683 e a moderna ciência médica fez enormes progressos. A vil ratazana não provoca a peste, que pelo contrário...como já tive ocasião de te dizer, é causada pela corrupção dos humores naturais, e, primeiramente, pela ira do Senhor Deus.*"

E então, o que é que vos suscita esta pérola? Na próxima postada há mais um delicioso trecho de "Imprimatur - o Segredo do Papa". Com o meu ritmo de postagem, deve ser lá para a Páscoa, pouco menos...

* É mentira essa do livro do Frota: comprei-o beeeem depois do Natal.
**O negrito fui eu que fiz, e não o senhor que escreveu o livro.

quinta-feira, janeiro 06, 2005

Tributo a "Xão & Costa"

Tenho recebido amiúde um e-mail mariconço sobre a nostalgia dos anos 80, a falar de uma porrada de picolhices avulsas. O "Marco" que se lixe e vá mas é pastar mais o macaco. Tenha cuidado, porém, porque já diz o povo em toda a sua sabedoria: "A brincar, a brincar, foi o macaco..." Olha, fiz uma rima. Assim sendo, apeteceu-me ripostar com a minha versão dos anos 80. Uma pequena amostra, neste caso.
Há qualquer coisa de muito zen no comércio tradicional. Será o enigmático buço da proprietária? Será o caleidoscópio cambiante das nódoas na bata? Enfim, é uma aventura em cada esquina, isso é que é.
Mas hoje quero que vá pastar o joio do comércio tradicional (e aproveite, leve o Marco e o macaquito atrás), porque esta missiva pretende prestar especificamente homenagem à Meca do pronto-a-vestir dos subúrbios, a Jerusalém dos "jogos de cama", senhoras e senhores: "São&Costa".
Na verdade, muito antes de sonhar sequer com o glamour próprio da Zara do Cascaishopping, aacontece que fui desde tenra idade peregrino do verdadeiro santuário do prêt-a-porter , essa enigmática Compostela dos textêis do Vale do Ave que é a nossa "São&Costa".
Mais do que um simples estabelecimento comercial, "São&Costa" é um estado de espírito. Resulta neste caso concreto que esse tal espírito se lembrou de incorporar uma simpática e patusca quitanda do têxtil, onde a minha santa mãezinha tratava de vestir os seus dois rebentos (quando era para comprar uma "coisa boa") sempre sob a supervisão atenta da dona da loja, a Dona São. Ou melhor,"Dona Xão", já que a xenhôra fala axim.
Estou a reportar-me aos tempos tenebrosos da roupa que não condizia, onde o rôxo dava bem com o verde e uma imaculada meia branca de renda ficava muito bem a qualquer criancinha em idade escolar. E quando não ficava bem, a mãe tratava de lhe explicar que ficava mesmo. Caso ela concordasse, ou não. Estávamos pois na Idade Média do vestuário, chamemos-lhe assim.
Sucede pois que a dona da loja tinha uma espécie de lema que saltava como uma mola, sempre que eu (ou o outro pouco afortunado irmão) experimentávamos uma pecita de roupa:

-"Ai, dona Xão, ichto beste tõe bem..." (a minha mãe também é São)

Invariavelmente, o comentário era este. Para aquela santa senhora, tanto fazia que se tratasse de uma camisa como um par de cuecas "à velha": qualquer trapinho ficava aquelas martirizadas crianças. E enquanto nos submetíamos à prova da indumentária, tratávamos de apreciar com o olhar encantado que é próprio da infância toda aquela profusão de infindáveis galerias de camisas verde/amarelo, calças bordeaux e roupa interior para homem e senhora. Que bonito, pensava eu na minha doce ingenuidade. No entanto, sempre torci o nariz às sinistras embalagens de roupa interior para homem, onde aparecia sempre um marmanjão a coçar os mamilos (ou pior...) numa pose pretensamente sexy, mas que só devia surtir efeito no meio de um chá das 5 na Opus Gay.
Mas o tempo não perdoa e, assim que começou a aparecer um dinheirito, a família foi lentamente votando o espartano estabelecimento ao abandono. A minha mãe ainda deixa escapar um certo saudosismo daquela roupa, mas essa é maleita que acho nem o tempo consegue curar. Aquilo parou no tempo, não renovaram os desenhos, as cores, os cortes. Está condenada a durar até ao fim da anterior geração, porque esta mija-se a rir ao ver a montra.
Mas se for para falar de paragens no tempo, teria que dedicar uma ode inteira aos "Armazéns Gatuxa", a loja onde se veste todo o marciano janota que se preze. Sim, porque aquela roupa não é deste mundo. Não pode.

terça-feira, janeiro 04, 2005

A tragédia, o drama, o horror...

Num desses dias de azáfama consumista pré-natalícia lá acabei por cometer o erro imperdoável da praxe: fui ao Colombo. Isso mesmo. Por esta altura já está o fiel leitor com um sorriso trocista nos lábios, enquanto confidencia aos seus botões: "Colombo? No Natal? Que grande besta!!". E com toda a razão, diga-se. Mas olha, ajoelhei e lá tive de rezar; é como quem diz: esperei feito asno pela última semana e tive que levar com ele. O Colombo. Tudo isto porque nesse tal antro dei de caras com duas almas que -mais ou menos, lá vão aparecendo na televisão: o Adelino Granja e aquela miúda gira do júri dos Ídolos.
A miúda só é gira nos Ídolos. Mal vestida, pouco penteada, sem base, a jovem nem por sombras me levava ao altar. Ah, não. Um decepção, foi o que foi.
Quanto ao senhor Adelino Granja...pasme o caro leitor, mas a criatura é feia, mesmo feia. Quase faria desconfiar que a Odete Santos teve um affairzito com o Emplastro. Ou com o Adamastor. Ou com um abutre, peculiar que é o nariz do senhor.
E pronto, agora vou morder a língua e cair redondo no chão. Bem feito.