segunda-feira, setembro 29, 2003

PENSO, LOGO EXISTO... Round I

Boas tardes, eventuais transeuntes do Páteo das Merendas da maledicência gratuita

Há meia dúzia de assuntos que o arquétipo do homem português não faz muita questão em aflorar. A saber, qualquer coisa que esteja relacionada com a pretensa vida sexual dos pais (eu sou daqueles que gosta de pensar que nasceu por geração espontânea), os "sete" que o Benfica mamou em Vigo e Alvalade (em particular para a massa adepta do Glorioso), o Ultimatum Inglês (e o Mapa Cor-de-Rosa), a questão de Olivença (que ainda há-de ser nossa, segundo dizem) e, finalmente, o famigerado "período", secundado por todos os sinistros subprodutos que com ele estejam relacionados, nomeadamente tampões, pensos higiénicos e outros que tais.

Na verdade, que designação poderia ser mais abjecta que "o período"...? Hein?! Quem é que teria tido a ideia peregrina de lhe chamar semelhante coisa? E porquê? O "período" parece uma daquelas expressões usadas para meter medo às criancinhas que fazem birra para comer a sopa. "Se não comes a sopa imediatamente, chamo o período!!!".(1)

(1) Consoante a área geográfica, o "período" é substituído pelo "cigano", "velho do saco", "polícia","papão", "Manuela Ferreira Leite" ou ainda pelo "homem do lixo", para as tias de Cascais e arredores)

Um beijinho para a Sophia

quinta-feira, setembro 25, 2003

Caros concidadãos eleitores e demais escória pré-eleitoral, vulgo cidadania a meio-gás...

Acabei agora mesmo de fazer o o exame (Direito Político) que vai ditar a minha passagem (ou não...) de ano, pelo que ainda sinto no corpo aquele torpor pós-exame, algures entre a euforia descontrolada e a depressão profunda (sendo ambas directamente proporcionais ao tempo dispendido com a preparação do dito...). Enfim, a Constituição tem segredos que a própria Constituição desconhece...
Mas isso são cantigas e a partir de hoje já vou poder voltar às minhas crónicas da tanga, porque isto de fazer uma espécie de "Diário de Anne Frank" de um gajo dos subúrbios deve ter o mesmo interesse para o leitor que a vida sexual de uma preguiça...Mais coisa, menos coisa.

Cumprimentos ao Capitão Roby, esse verdadeiro ídolo da juventude portuguesa (sim, não me venham falar desses maricões que acham que sabem cantar e vão à televisão fazer figuras tristes)
Ah, cumprimentos (póstumos) também a Salgueiro Maia, já que hoje sinto Abril correr-me nas veias com o ímpeto de um cavalo dopado. Não deixem morrer a utopia...

terça-feira, setembro 23, 2003

Caríssimos paroquianos,

Duas coisas.
Primeira, foi com grande regozijo que constatei da adesão ao Guestbook (dito assim, em estrangeiro, parece uma coisa mais sofisticada). Tenho pena de não fazer ideia de quem seja a "d isabel", mas valeu a tentativa.
A Patricia diz que eu sou muito lindo...É verdade, honra lhe seja feita. E agora vou fazer aqui um parágrafo, que é para enfatizar bem esta afirmação.

Segunda, tiro o chapéu à Alice Medrosa, que já ganhou um lugar cativo na mesa de chá que é o meu coração. Quanto ao resto do auditório, despachem-se antes que arrefeça...

Na paz do Senhor,
Irmão André
Boa noite ao pessoal do Estabelecimento Prisional de Lisboa e ao restante auditório

Tenho andado com pouco tempo para limpar as folhas secas do Parque (e escrever qualquer coisinha, já agora), até porque o show travesti rouba-me a maior parte. Enfim, quem corre por gosto...

Outra coisa: vou passar a fazer greve de fome -todos os dias das 02H00 às 10h00 AM- até que algum(a) filho (a) de Deus se digne fazer algum comentário às minhas interpelações. E só paro para comer uma bucha a meio da noite!! Quero ver quem é o coração de chumbo que não se vai sensibilizar perante o apelo deste Bambi perdido no meio da floresta da incompreensão alheia...Vá lá, Alices medrosas, saltem para este lado do espelho!!!

Beijinhos e abraços do Coelho do Relógio, que já tem um cházinho com bolachas à  vossa espera...

sábado, setembro 20, 2003

E pronto, portugueses e portuguesas, o Parque já tem um livro de visitas. Peguem na caneta e deixem a vossa opinião. Claro está, se me for favorável. Se não, metam-na no repositório que mais vos aprouver. Sugiro o contentor de lixo do Parque, porque este espaço quer-se asseadinho.
Cumprimentos

sexta-feira, setembro 19, 2003

Não posso deixar de sorrir perante o número de pára-quedistas que aterram no Parque através da pesquisa por "Isabel+Figueiras+Maxmen"...Otários :)
Caríssimos paroquianos,
Conforme me comprometi, aqui fica a transcrição de um diálogo extraordinário de um episódio do "Seinfeld", na onda da desmistificação do "gosto de ti como amigo", esse Adamastor do levar tampa e afins. Leiam e lambuzem-se com estas duas colheradas de mel literário.


>>"ELA GOSTA DE TI COMO AMIGO" by JERRY SEINFELD
>>
>>
>> «Ate hoje pensava que a pior frase que podia ouvir de uma rapariga
>>era:
>>"Temos que falar...".
>>Mas nao!
>>A pior frase de todas e: "Eu tambem gosto de ti...mas como amigo."
>>isto significa que para ela tu es o mais simpatico do mundo, aquele
>>que melhor a compreende, o mais dedicado... mas nunca vai sair
>>contigo.
>>Vai sair com um gajo nojento que apenas quer ir para a cama com
>>ela.
>>Ai sim,quando o outro lhe faca alguma das dele, ela chamar-te-a
>>para te pedir conselhos.
>>E como se fosses a uma entrevista de trabalho e te dissessem:
>>
>>"Voce e a pessoa ideal para o posto, tem o melhor curriculo, e o
>>que esta melhor preparado... mas nao vamos contrata-lo. Vamos
>>contratar um incompetente. So lhe pedimos uma coisa, quando esse
>>gajo fizer asneira, podemos chama-lo para nos tirar da embrulhada
>>em que ele nos meteu?"
>>
>>Eu pergunto:
>>o que e que fiz mal?
>>Fomos ao cinema, rimo-nos, passamos horas em cafes... e depois de
>>quantos cafes ficamos amigos de verdade?
>>Depois de cinco?
>>Seis?
>>Com um cafe menos e tinha ido para a cama com ela!!
>>Para as mulheres, um amigo rege-se pelas mesmas normas de um
>>Tampax:
>>podem ir para a piscina com ele;
>>podem montar a cavalo;
>>dancar..., mas, a unica coisa que nao podem fazer com ele e ter
>>relacoes sexuais.
>>Ainda por cima, bem vistas as coisas... se para uma mulher
>>considerar-te "seu amigo" consiste em arruinar a tua vida sexual, o
>>que fara ela com os inimigos?
>>A mim parece-me muito bem que sejamos amigos, o que nao percebo e
>>porque e que nao podemos "ir para a cama como amigos".
>>Eu penso que a amizade entre homens e mulheres nao existe, porque
>>se existisse saber-se-ia.
>>O que acontece e que quando ela te diz que gosta de ti como amigo,
>>para ela significa isso e ponto.
>>Mas para ti nao.
>>Para ti quer dizer que se numa noite estao na praia, ela ja com uns
>>copos, esta lua cheia, os planetas estao alinhados e um meteorito
>>ameaca a Terra... podias muito bem ir para a cama com ela!!
>>Por isso engoles...
>>Por isso nunca perdes a esperança.
>>Ela sai com o Joe?
>>Isso vai acabar.
>>E quando isso acontecer, tu atacas com a tecnica de consolador:
>>"Nao chores, o Joe era um chulo. Tu mereces muito melhor, alguem
>>que te compreenda, alguem que esteja no sitio certo quando tu
>>precisas, que seja baixito, que seja moreno, que nao seja muito
>>bonito, que se chame John...COMO EU!!"
>>Pelo menos, sendo amigo podes meter nojo para eliminar
>>concorrencia.
>>É a tecnica da "lagarta nojenta".
>>Quando ela te diz:
>>- Que simpatico e o Paul, nao e?
>>- O Paul? E muito simpatico... so e pena ser um pouco estrabico.
>>- Ele nao e estrabico, o que tem e um olhar muito ternurento.
>>- Sim, tens razao. No outro dia reparei nisso quando olhava para a
>>Marta.
>>- Nao estava a olhar para a Marta, estava a olhar para mim!
>>- Ves como e estrabico?
>>O cumulo dos cumulos e o facto dela considerar ter uma relacao
>>"super especial" contigo quando pode dormir na mesma cama sem que
>>se passe nada.
>>COMO E QUE É??!!
>>Entao o "super especial" nao seria que se passasse algo?!
>>Um dia depois de uma festa, tu ficas a ajuda-la a limpar, como
>>fazes SEMPRE, e quando acabam ela diz:
>>- UH! Que tarde. Porque e que nao ficas ca a dormir?
>>- E onde e que durmo?
>>- Na minha cama.
>>Ai, ate te tremem as pernas.
>>"Esta e a minha noite, alinharam-se os planetas!".
>>Passados uns minutos, das-te conta que nao sao precisamente os
>>planetas que se alinharam, porque ela, como sao amigos, com toda a
>>confianca fica em roupa interior e tu, pelo que ves, pensas:
>>"Vou ter que ficar de boxers. Com todo o alinhamento de planetas
>>que tenho em cima..."
>>E, assim que te metes na cama, dobras os joelhos para dissimular.
>>Ela mete-se na cama, da-te uma palmada no rabo e diz-te "Ate
>>amanha".
>>E poe-se a dormir!
>>"COMO E QUE É??!!
>>Como e que se pode por no ronco tao cedo?
>>E esta fulana nao reza nem nada?"
>>Estas na cama com a rapariga dos teus sonhos.
>>No inicio nem te atreves a mexer, para nao tocar em nada.
>>Sabes que se nesse momento fizessem um concurso, ninguem te podia
>>ganhar:
>>És o gajo mais quente do mundo.
>>E como é longa a noite!
>>Vem-te a cabeca um monte de perguntas:
>>"Tocar uma mama com o ombro sera de mau amigo? E se e a mama que
>>toca em mim?"
>>Mas depois de muitas horas, ja so fazes uma pergunta:
>>"SEREI REALMENTE UM MANSO?!"
>>Nao podes acreditar que estas na mesma cama e nao se vai passar
>>nada.
>>Confias que, a qualquer altura, ela vai dar a volta e dizer "Anda
>>lorpa, que ja sofreste bastante. Possui-me!"
>>Mas nao.
>>Para as mulheres parece que nunca sofremos o suficiente.
>>E como sofres...
>>Porque tens todo o sangue do corpo acumulado no mesmo sitio.
>>Ja houve mesmo casos de homens que rebentaram.
>>Mas ainda nao acabou a tua humilhacao.
>>As 7 da manha tocam a campainha:
>>- AH! E o Joe!
>>- O Joe? Mas ele nao te tinha deixado?
>>- Depois conto-te tudo. Estou com pressa. Esqueci-me de te dizer
>>que o Joe ia trazer o cão. Como vamos a praia eu disse-lhe que
>>ficando contigo o cão nao podia estar em melhores maos. Porque tu
>>es um amigo! UH?!
>>Estas com uma cara. Dormiste bem?
>>E aí ficas tu com o cão, que esse sim e o melhor amigo do homem. »

THE END




quinta-feira, setembro 18, 2003

Boa noite, amigos, palhaços e companheiros deste circo que é a vida

Hoje vim só passear o cão ao Park, até porque o animal precisa de esticar as pernas e dar a sua mijinha delimitadora de território, de vez em quando. Coisas de cão.

Venho deixar 3 cl de veneno puro, resultado de uma interessante troca de ideias com o amigo Nelson Mendes esta tarde: segundo o mesmo, o cúmulo da tristeza é um gajo ter que fingir os próprios orgamos. As mulheres que se ralem com essas coisas, obviamente.

Agora vejam lá!! Que vocês não comentem os meus textozecos-de-trazer-por-casa, isso ainda compreendo. Agora, esta...

terça-feira, setembro 16, 2003

HÁ COISAS QUE NÃO SE DIZEM

Saudações à  diàspora que constitui o meu fiel auditório, espalhada um pouco por todas as alas psiquiá¡tricas deste jardim à beira-mar plantado...

Pois é, pois é, há coisas que não se dizem e, principalmente, não se deviam ouvir. Nunca. Mas na vida real, a coisa não funciona bem assim. Há uma série de clássicos do horror, tão familiares como o Manuel Luis Goucha nos programas-de-encher-chouriço das manhãs da televisão.

O "Gosto de ti como amigo"´constitui um autêntico paradigma destas vilanias verbais. Quem é que nunca levou com esta "bomba-G" nos queixos? Ai do pobre suporte genital, que embate no solo com um fragor considerável, ao ouvir este exemplar de barbárie verbal... E que dizer dos infelizes eufemismos usados nestas ocasiões, que supostamente deveriam consolar a alma enegrecida do "pontapeado"...?! É como tentar apagar fogo com gasolina, que a bem dizer, se sabe ter uma composição química pouco dada a essas coisas. A ver se nÃo me esqueço de "postar" um texto lindí­ssimo sobre estas coisas, um diálogo transcrito de um episódio do "Seinfeld". Pode ser mais batido que a história do assentador de tijolos de Cascais, mas é daquelas trovas que são transmitidas de pai para filho, as jóias da família na verdadeira acepção da palavra.

O ego masculino é, por noema, uma construção pouco mais sólida que as pontes pedonais do IC19 e está pronto a desmoronar-se ao sinal de uma qualquer brisa mais avantajada. Bem, isso da brisa, ainda vá que não vá. Agora, perante certos tornados como "Já acabaste...?" ou "Que giro, tão pequenino...", não há Forte do Guincho que resista. Estas bocas, não as desejo nem ao José Mourinho.

Mas as meninas também levam umas lambadas verbais valentes, de vez em quando. O que só lhes faz bem, diga-se. Ajuda a formar carácter e torna as bochechas mais rosadinhas. Basta pensar no sex-appeal próprio das mulheres nortenhas... Pérolas telegráficas como "És uma miúda espectacular, bué inteligente e com um excelente sentido de humor. Pena seres gorda. Adeus." ou "Eu até gosto de ti, és uma fixe, mas a que a minha ex telefonou-me e tu não podes competir com isso. Basicamente.". Ou então, simplesmente, "És gorda" (curto e grosso, sem polimentos e extras). "És uma baleia" (analogia zoológica), "És desmesuradamente obesa, nem penses", "Tenho três palavrinhas para ti: Jose-Maria-Tallon...". Finalmente, o golpe de misericórdia: "Tu queres o quê!!?? Meu rico cXXXXXXXXX!!!!"

E há ainda outras perfídias que a malta pensa, mas prefere guardar para os seus botões, porque pareceria muito mal e não convém denegrir a nossa imagem no mercado. Estas coisas vêm sempre a lume e não há coisa mais volátil e imprevisível que a Bolsa do Gajedo. Essas, obviamente, vou-me coibir de as enunciar. Perguntem ao vosso respectivo, se quiserem.

Mas há expressões ambidextras que também vão preenchendo regularmente o infame livro da desculpites esfarrapadas, mais andrajosa ainda que o guarda-roupa de um festival hippie. A saber, "A culpa não é tua, é minha", "Não te mereço", "Estou confuso (a)", entre tantas outras. Há gente que lida com estas coisas com o tacto próprio de um elefante às compras numa loja de porcelanas, mas a vida é mesmo assim. Um dia é da caça e o outro, do caçador.

Despeço-me com o grotesco "eu gosto de ti, mas, sabes, vem aí o Verão..." Esta aconteceu mesmo. Nõ gozem, amanhã pode ser a vossa vez...


Um beijinho para a amiga Susana Quintela

segunda-feira, setembro 15, 2003

"Eh, toiro" - parte II (e chega bem)

Olá outra vez

Aqui vai então a transcrição da coluna da D. Isabel...

«É tempo de férias, tempo de contar histórias divertidas, tempo de recordar e ...tempo para pensar, aproveitando o tempo de ócio –oposto ao tempo de negócio- característico das férias. Comecemos então pela história, que além de engraçada, é verdadeira.
(...)
Esta história, verídica, foi recordada por um tio que no-la contou ao serão após um jantar familiar. Ele e a minha mãe são as memórias vivas da família, as pessoas que costumamos "atormentar" para que nos contem os costumes da época, da nossa família. É esta uma das actividades típicas de férias que se pode usufruir na praia, entre dois mergulhos, ao café, ao jantar...
Mas às praias estão a chegar outros toiros que marram de lado e sem prevenir. Contrariamente ao toiro "náufrago" não chegam cansados à areia. Vêm dispostos a atacar e causar estragos. Chegaram os toiros do consumismo, da vida fácil, do convívio indescriminado, da moda despudorada, da falta de ordem na alimentação, nos horários para refeição e descanso. E é de ver as colhidas: filhos que se iniciam numa vida de vícios –alcoól, drogas, sexo, jogo- casais que se separam, pais idosos abandonados...
E é de ver os "colhidos" a procurarem os hospitais da vida, sem os encontrar e sem perceberem o que lhes aconteceu ou como lhes aconteceu esta ou aquela desdita. Desabafam as suas tristezas e não há quem os queira ouvir e ainda menos ajudar. Se ouvem algum bom conselho, no sentido de mudarem de vida, de passarem a viver num ritmo ponderado pela razão e disciplinado pela vontade, fogem como covardes e qualificam-no de retrógrado.
Se alguma mulher se destaca em algum pequeno pormenor de falta de pudor, é fácil que venha a ser classificada, pelo menos trato, de pouco honesta, pois começa por ser olhada e depois interpelada, embora use aliança no dedo anelar. Se um homem tem por hábito beber um pouco acima da conta, pode acontecer que comece a ter comportamentos de que virá a envergonhar-se mais tarde ou, pior ainda, que venha a perder essa vergonha (o toiro pode colher o forcado e deixá-lo sem sentidos), sinal de que já não consegue distinguir o bem do mal.
Saber estar nas praias sem ser colhido, é toda uma arte de bem tourear. Uma "verónica" para a direita para evitar olhar o reduzido "bikini" que se apresenta à esquerda. Um lançar o capote para a frente, para poder tapar a túnica transparente de quem passa ao lado. Um "par de bandarilhas" bem colocado –reprimenda, castigo- quando se torna necessário refrear a força do toiro (um pai retirou por um ano, o automóvel a um filho, que não respeitava as horas de recolher a casa). Uma fuga atempada para a "trincheira", desviando caminho, para evitar o enfrentamento com um grupo conhecido pelo seu comportamento agressivo.
Ao terminar o Verão, com a família toda reunida, descansada e bem disposta é altura dos aplausos, saída em ombros, cauda e orelha na mão, ramos de flores aos pés e soando bem alto aos ouvidos um grande OLÉ!»

in O Almonda, 5 de Setembro de 2003
Texto da autoria de Isabel Costa

Enfim, caro leitor...não consigo tirar este sorrizinho de felicidade da cara...Como é que o posso descrever...? Já sei: faz lembrar o mercador fenício Epidemias (1), enquanto vê a dupla-maravilha desancar as legiões romanas em alto mar...E não me apetece dizer mais nada. Se vos apetecer, escrevam.

Um grande abraço ao recém-chegado Rui Lopes, perdido por alguns anos em terras de Sua Majestade (http://picuinhas.blogspot.com)

(1) Vide "A odisseia de Astérix" (Goscinny/Uderzo)
"Eh, toiro!" - parte I

Boas noites, gentes de Barrancos

Não, não vou bater no ceguinho, (i.e., na história dos toiros de morte em Barrancos) porque esse assunto é chão que já deu as uvas que tinha para dar. Agora que até já podem matar a bicharada e não se prende ninguém, quem é que quer saber disso para alguma coisa? Venho aqui hoje falar de outras touradas, passados na divertida arena da imprensa regional.

Nos últimos tempos tenho perscrutado com algum interesse os simpáticos pasquins da abençoada terra que me viu nascer, como "O Almonda" (Torres Novas), "Mirante" (região do Ribatejo) e mais uma ou outra patusca publicação. Vendo bem, este assunto pode gera munição mais que suficiente para uma saraivada de artilharia aqui no Parque. Logo se vê. Estes periódicos regionalistas costumam presentear-nos com as verdadeiras pérolas que são os artigos de opinião dos redactores residentes...Bem...Ok, é melhor não me esticar muito, porque iria cuspir num prato onde já comi, num passado mais ou menos remoto. Sim, pequei. E vamos ficar por aqui.

Verdadeiros "Confúcio-da-frase-feita-e-do-lugar-comum", há ainda uma outra característica universal neste tipo de artigos: o moralismozinho lamuriante, para o qual já não há a mínima pachorra. É impressionante, mas em todo "O Almonda" não há um único artista que salve a honra do pobre convento. Não me vou esticar muito com exemplos, mas há um cavalheiro que se refere repetidamente ao «cowboy Bush» e toda aquela conversa que já não lembrava nem ao Menino Jesus, do género «O país dos sonhos foi atacado pelas forças do Mal. Onde estão os super-heróis que deviam proteger as Torres Gémeas?» Reticências. Pontapés delas.

Trouxe aqui ao Parque um pedacinho de céu da autoria de uma distinta colunista chamada Isabel Vasco Costa e que merece ser difundida no éter da Tasquinha do Escárnio e Maldizer. O artigo é um bocadinho extenso, pelo que vou saltar para a parte que "interessa". A introdução fala de uma tourada na Ericeira, de um toiro que cai à água e de um banheiro que vai no seu encalço, julgando socorrer um vulgar banhista com apenas duas pernas e os cornos (desejavelmente) mais pequenos...Até aqui, menos mal.

O problema surge quando a D. Isabel (quando se fala do "tempo da outra senhora" é desta senhora que se está a falar) suspira num tom saudosista pelos idos tempos dourados do Presidente do Conselho e do Portugal dos bons costumes. Tive que fazer um ou outro sprint até ao Vomitódromo enquanto transcrevia algumas frases. Cheguei a pôr em causa a minha integridade física. O que eu não faço pelos meu fiel auditório...Tem o microfone a fadista Isabel Vasco Costa...Não percam a próxima "postada".

sábado, setembro 13, 2003

O BIBELOT, ESSE FLAGELO DECORATIVO - parte II (e última)

Boas noites aos discípulos do Templo da Barraquinha
Peço desculpa por me ter ausentado esta semana, mas estive na aldeia e a Revolução Electrónica ainda não chegou ao Ribatejo profundo. Mas aproveitei para me deliciar com a imprensa regional daquelas bandas e vou aproveitar para a desancar forte e feio na nossa próxima "Conversa em família".

Entre os mais sofisticados receptáculos de pó de uma típica sala de estar, corremos o risco concreto de encontrar aqueles tabuleiros de xadrez XPTO, com peças talhadas à mão e incrustrações de pedras preciosas. Claro está, livre-se alguém de pôr o dedo em cima desta obra de arte decorativa...:

"-Isto custou-me os olhos da cara!!! Se vos apanho a jogar, ficam seis anos de castigo sem ver o Batatoon!!" –vocifera a matriarca do clã. Dentro dos bibelots mais sofisticados, a Enciclopaedia Britannica, e as Obras Completas do Eça e do Camilo são "monstros sagrados" da literatura que povoam frequentemente a salinha de estar. São aliás tão sagrados que ninguém se atreve a cometer a blasfémia de lhes passar a mão no pêlo... A título de curiosidade, a minha afilhada mantém a sua biblioteca de sala religiosamente plastificada, aguardando com certeza um qualquer evento messiânico, dia esse em que os vai retirar do casulo e eventualmente, ler algum...

Estes objectos intocáveis fazem-me lembrar um outro tabu que sempre me fascinou: a porta principal da casa de aldeia. A habitação da aldeia tem sempre uma porta virada para a estrada, com um vaso florido e meia dúzia de sardinheiras no seu regaço. Essa porta nunca –ou quase nunca- é aberta. Há sempre uma portinhola camuflada com alguma vergonha nas traseiras –a "porta do cavalo"- que tem sempre uma daquelas coloridas redes anti-mosca. A porta principal –que ostenta orgulhosamente o número da habitação- é usada apenas em ocasiões mais cerimoniais. Esse místico portal dimensional só se abre aquando da visita do pároco local, do senhor Presidente da Junta e pouco mais. Fecha-se a porta da cripta e passado um minuto já o silêncio pesado volta a engolir o frontispício da habitação. E fecha o parêntesis.

O Nabuconodosor (1) desta "Babilónia do Barro Acetinado" é, sem dúvida, a "Recordação de (...)". Quem é que não tem em casa um pratito ou medalhita comemorativa de uma qualquer excursão a Badajoz, ou mesmo um exemplar vagamente fálico de louça comemorativa de um passeio às Caldas...? Uma sala lusitana que se preze tem que ter pelo menos um recuerdo alusivo ao santuário de Fátima ou do Bom Jesus de Braga. Vemos aqui aplicado um raciocínio geométrico do tipo "quem não é do Benfica não é bom chefe de família", aplicado à especificidade da posse de louça regionalista.

Mas de onde vem e para onde vai esse autêntico combustível alimentador das quermesses de qualquer festinha da terra, o bibelot?
A origem primeira (e última...) desta maleita decorativa é, incontornavelmente, o Império do Meio (2). O "Made in China" é mais vulgar entre a bonecada de barro que a exploração de mão-de-obra infantil nas novelas da TVI... Toda a gente sabe –e só não vê quem não quer- que se está perante uma espécie de "mito do eterno retorno" (desculpa lá a blasfémia, ó amigo Mircea).
Passo a explicar: a malta compra a bela rifa na barraquinha da especialidade, certo? Sai-nos um daqueles dálmatas de louça relezita (giríssimos...) com que algumas almas penadas insistem montar guarda na sala de estar. "-Que bela trampa..." – cogita angustiadamente o infeliz contemplado. "-O que é que eu faço com este mono...?" –interroga-se o mesmo indivíduo. Posta de parte a possibilidade exposta pela senhora esposa do Neandertal (i.e., metê-lo no c...) só resta levar aquele emplastro barrento sarapintado para casa. Eis senão quando o ciclo se fecha e o mito das rifas ganha pergaminhos de eterno retorno: "-´Pera lá, para o ano já sei o que é que vou dar às senhoras da Comissão de Festas, quando passarem cá por casa a pedir qualquer coisinha. Ah, pois...!!"

Fico à espera da vossa boquinha reaccionária, aqui mesmo, no vosso Speaker´s Corner do Blogue do Fim do Mundo

(1) Vão ver à enciclopédia que têm na sala. Pelo menos, sempre lhe sacodem o pó...
(2) A pobre enciclopédia já deve estar aborrecida com o corropio...

Um beijinho para a dedicada amiga Margarida Rodrigues, fiel leitora e incansável promotora desta cubata literária, que nem tecto de colmo tem.

segunda-feira, setembro 08, 2003

O BIBELOT, ESSE FLAGELO DECORATIVO - parte I

Boas noites para os meus leitores em Calcutá e um enorme bem-haja aos demais convivas da Barraquinha das Farturas


Hoje vou abrir as hostilidades com uma viagem no tempo. O cenário é o seguinte: acabou de regressar à sua "Caverna, doce caverna" um Homo Erectus, Habilis ou outra coisa qualquer. Enfim, um qualquer primo afastado do macaco Hadrianno, exceptuando o Tony Ramos. Absolutamente extenuado, o nosso hominídeo apresenta um ar mais fatigado que o padre Vitor Melícias depois de cortar a meta das Quinhentas Novenas de Indianápolis. (1) Num último esforço, arremessa para o chão da caverna a gigantesca presa que acabara de caçar. Um diálogo surreal segue dentro de momentos:

"-Seu, seu...selvagem (começa a chorar)!!! Achas que é aí que vais deixar isso?!! No chão da sala!!?? Bruto!! A minha mãe bem me disse para casar com o vizinho da tribo do lado. Pode não ter essa história do polegar oponível, mas pelo menos é arrumadinho e tem a tanga de pele de leopardo sempre num brinquinho. Já tu...Qualquer dia, vais ver nascer-te na fronte um par de cornos maior que o desse auroque..."

O pobre e confuso caçador tenta (em vão, naturalmente) discutir racionalmente com a mulher. A tarefa já de si bastante complicada torna-se substancialmente mais espinhosa quando estamos perante um indivíduo do sexo feminino dotado de uma cubicagem crâneana diminuta...Pois é, pois é. Finda a refeição, e chupadinho até ao tutano o pobre herbívoro, a discussão recomeça:

"-Mas...ó amorzinho...onde é que eu meto isto?!"
"OLHA, METE ESSE ESQUELETO NO C... Espera lá...com um toquezinho aqui e um arranjinho ali...será...? Quem sabe...Humm...Já sei, vai ficar ali ao pé do sofá, para dar um toque mais acolhedor à sala. Dou-lhe uma traulitada bem dada e fica logo com outro aspecto!! Sim!!! Isto do toque feminino é outra coisa, sem dúvida."
Meus senhores e minhas senhoras, acabara de ser criada a primeira escultura rupestre. Uma singela marretada para esta senhora, um gigantesco salto para a Arte. Calma aí, não vamos já a correr regozijar-nos com esta conquista estética, façam favor de aguentar aí os cavalinhos. Na verdade, das mãos desta senhora saíra também o primeiro exemplar de um temido flagelo que iria inexoravelmente fazer-nos companhia, geração após geração, nidificando nos móveis de uma inocente e incauta sala de estar...Minhas senhoras e meus senhores: o bibelot. A tragédia, o drama e o horror seguem dentro de momentos...

O Bibelot (latu sensu) é todo aquele objecto que não tem qualquer utilidade que não seja a mera função decorativa. Até aqui, ainda vá que não vá. O problema é que o povo português tem um magnetismo irresistível por bonequinhas feiosas, caixinhas pirosas e outros tantos emplastros com os quais entope as faixas de rodagem dos móveis da sua habitação. As loiras voluptuosas não são para aqui chamadas, pois a malta é bem capaz de idealizar uma ou outra utilidade bem mais agradável que a mera decoração (no banco do pendura) de carros desportivos...

A "Bibelotite" é um tipo de doença decorativa (e degenerativa) que se dissemina mais rapidamente que um segredo bem guardado num escritório cheio de mulheres... O agente de propagação mais conhecido é a Loja dos Trezentos: trata-se de uma espécie de caixa de Petri da cultura do vírus do bibelot, um artefacto tão comum nas nossas casas como o "bigodinho-à-Clark-Gable" nos homens iraquianos. Mas há outras entidades incubadoras deste pesadelo dos adolescentes que têm que limpar o pó da casa: a sapateira e a camilha. Regra geral, estes altares do culto da Deusa da Inutilidade estão mais carregados de fotografias que um «ferry» filipino em hora de ponta. Mas se sobra um ínfimo espaço que não seja eventualmente abarbatado por todas aquelas caras sorridentes, o temido vírus tende a agarrar-se que nem lapa a esse cubículo minúsculo. Com um olhar desafiador, sussurra um "Em breve, seremos dezenas, centenas, milhares!!!" "AH!! AH!! AH!!" (riso de bibelot lunático, filiado no Partido Popular (2)


(1) Prova a contar para os World Prayer Championships, ou, para quem não sabe ler estrangeiro, os Campeonatos Mundiais da Oração
(2) Esta piada foi muito boa


Um beijinho para a Inês "M.T"

sexta-feira, setembro 05, 2003

"NÃO NEGUE À PARTIDA UMA CIÊNCIA QUE DESCONHECE..."- parte II
(e última)


Muito boas noites às peixeiras do Mercado do Bolhão e ao restante auditório

Um astrólogo que se preze promete eficácia e resultados. Nada melhor que deslumbrar o cliente com um esplendoroso "mapa astral", cheio de arabescos místicos indecifráveis, sustentando afirmações do género: "A maadame está a ver Marte aqui em cima de Vénus? Isto quer dizer que vai conhecer o homem da sua vida até às 17He44 de 14 de Setembro deste ano. Se tal não vier a acontecer, é porque Úrano teve um affairzito planetário fugaz com essa galdéria e a gente sabe que isso não pode dar boa coisa. Agora, só não percebo este pontinho preto na zona dos Peixes. Mas...está a mover-se..!!!! É um espírito errante...ah, era uma mosca..."

Embrulhados num pacote desejavelmente mais apetecível que o da concorrência e a milhas daquela conversa de amador que são as previsões generalistas, estes profissionais oferecem soluções customizadas, à medida das necessidades do cliente. A vulgar bruxa urbana é agora uma renascida "vidente" ou "astróloga" ou "parapsicóloga" abraçando com entusiasmo os desafios da "aldeia global". Nada chega aos calcanharesao "Instituto CosmoPsicoBiológico do Professor..." não me lembro do nome do cavalheiro, mas sei que só lhe faltava ser engenheiro agrónomo. O resto estava lá.
Torna-se muito interessante analisar com detalhe a linguagem empresarial empregue no ramo, sendo óbvio que o marketing omnipotente lançou a âncora nos aparentemente insuspeitos mares do espírito e afins. Quem quiser comprovar a agressividade comercial do palavreado usado, basta que dedique dois minutos a ver os classificados de um pasquim de referência, como o Correio da Manhã. Aconselho. Um desses dias que levem com os pés, nada melhor que ver a fatiota do digníssimo Professor Karamba e a sua pose de "Buda-da-Praça-de-Espanha". Em negro.

Mas o "monstro de ébano" do ramo, o Professor Bambo, tem até um programa de rádio. Ah, pois!! O homem é mais popular entre o seu auditório que o Ricky Martin na pista de dança de uma discoteca gay... A fauna lusitana é muito diversificada. Nós por cá temos o abichanado Paulo Cardoso (aquele que é casado com a cantora lírica e têm ambos um anúncio publicitário residente no pasquim supracitado) a sempre colunável Maya (que dá uma perninha no "SIC 10 Horas"), a enjoadita Cristina Candeias (de serviço na "Praça da Alegria" do canal 1) e milhentos outros cromos que já fizeram história. Entre eles, o "firme e hirto" do Professor Herrero, já mais clássico que aquela cena do piano no "Casablanca".
Bem feitas as contas, dava para encher uma edição da Caras só com estes cromos da astrologia, apesar de que alguns -infelizmente- terem menos aptidão para a fotografia que o Marques Mendes para jogar a poste numa equipa de basket...

Certo é que muita cara conhecida não dispensa os serviços destes "Marcelo-Rebelo-de-Sousa-da-leitura-do-búzio-e-derivados", consultando-os aquando da tomada de decisões fulcrais, como a conjuntura cosmológica favorável à tosquia do seu caniche, por exemplo.
E não há classe ou sector da sociedade que esteja alheado desta realidade: chegam de vez em quando a lume umas histórias muito mal contadas sobre bruxos que fazem trabalhinhos para os clubes, galinhas pretas nos balneários, etc. Não chegavam já os frangos do Vitor Baía...(1)

Na sombra dos sorridentes e colunáveis astrólogos das capas de revista, uma outra classe luta para sobreviver à concorrência desleal destes "hipermercados do oculto": a bruxa do "comércio local" continua inelutavelmente a recorrer aos sapos dissecados (2) na preparação das suas poções de amarração do bem-amado (3), anti-calosidades dos pés ou mau hálito congénito.

Como dizia o Herman: "O signo Imperial vai muito bem com o ascendente Tremoços". O resto, não sei. Não me interessa quais são astrólogos, videntes, bruxos, magos ou marceneiros. De qualquer forma, eu também não sou ninguém para avançar com rebuscadas teorias explicativas destes fenómenos gerados pela solidão sufocante das sociedades urbanas, da necessidade de um ombro amigo, da tentativa de dar algum sentido à vida vazia das sociedades de consumo, blá, blá, blá.
São coisas tão antigas como Nós mesmos, inseguranças e medos que nos acompanham desde o dia em que descemos das árvores, com as partes baixas a chocalhar sob o Sol inclemente. Os especialistas que se dediquem a essas coisas, pois eu ainda nem sequer acabei o curso e já ia sendo mais que tempo, por acaso. Vai na volta, pregaram-me algum mau-olhado académico, ou coisa que o valha. Acho que vou mas é fazer uma chamadinha para o consultório do Professor Faty. Mal não faz...


(1) Para as senhoras que eventualmente leiam isto, o Vitor Baía é um jogador de futebol. Um daqueles que fica mais atrás, perto daquela caixinha com rede à volta. Ah, e pode agarrar a bola à mão, sem que o senhor do apito ralhe com ele por causa disso.

(2) Sob veemente protesto dos batráquios envolvidos

(3) Um best-seller do bruxedo






quarta-feira, setembro 03, 2003

"NÃO NEGUE À PARTIDA UMA CIÊNCIA QUE DESCONHECE"- parte I

Boas noites ao meu fiel auditório e um grande abraço ao pessoal da roda (saudação fraternal entre o selecto clã dos camionistas, para quem não saiba)

Não há nada tão assustador para quem se propõe escrever qualquer coisa, como o deserto branco de uma página A4 por desvirginar. E é terrível quando não se passa mesmo nada pela cabeça, como se do argumento de uma novela da TVI se tratasse. A TVI é, por sinal, o cerne da questão. Sentei-me em frente ao ecrã e, mesmo na linha do horizonte está um placard (1) a rezar o seguinte: "BigBrother-Eles vão pôr tudo a nu". "Porreiro..." -confidenciei aos meus botões- "... já tenho aqui material suficiente para fabricar uma dessas dirt-bombs literárias".

Comecei penosamente a escrever uma, duas, três linhas, com o entusiasmo próprio de um condenado a atravessar o corredor da morte. Na verdade, faltou a paixão. Não sei se era do adiantado da hora, se era disso da Lua nova, ou se estava com dor de cabeça: a verdade é que o assunto não me excitou minimamente e perdi logo ali o apetite. E quando isso acontece –como em outras situações semelhantes- mais vale embainhar o instrumento (de caligrafia, neste caso) e esperar que a luz do dia seguinte faça luz sobre o espírito atordoado e desértico de criatividade. Bem dito, bem feito: o Sol nascente dissipou as minhas angústias.

Sucedeu que fui cumprir o ritual diário da consulta do correio e eis senão quando me deparo com um cartão de visita, rezando o seguinte:

«Grande Mestre Jan Faty

Grande cientista espiritualista, com supermagia negra e branca mais forte, trata e ajuda a resolver qualquer que seja o seu caso de difícil solução, com mais rapidez. Ex: amor, sorte, negócio, emprego, união, prender e desviar, afastar e aproximar pessoas amadas, doenças espirituais, justiças, estudos, maus-olhados, invejas, etc, etc. Lê a sorte, dá previsão de vida e futuro pelo bom espírito e forte talismã.»

Ok, já tinha um delicioso alvo a abater: a astrologia. Acabo de pronunciar a dita palavra e vem-me imediatamente à cabeça a incontornável Alcina Lameiras e a sua mini-saia de meretriz de dois contos de réis. Quem é que não se lembra daquele anúncio hilariante? "Não negue à partida uma ciência que desconhece!", vociferava ameaçadoramente a actriz Alcina, enquanto vendia as virtudes dos seus seviços de cartomância à la carte, servidos via linha telefónica. Esta pérola deixou a sua marca indelével no imaginário publicitário, na linha de clássicos como "Um branco de carapinha não é natural: Restaurador Olex (...)" ou "Bic Laranja, Bic Cristal, duas escritas à vossa escolha" (2). Tadinha da senhora Alcina, a puxar com desconforto os dez centímetros de pano que estoicamente tentavam conferir algum pudor aquele anúncio a transpirar uma discutível sensualidade. Para quem não se lembra do dito apresento as minhas sinceras condolências.
O nosso amigo Grande Mestre Jan Faty (ou J.F., como é conhecido no Mussulo) lava mais branco que o OMO, satisfaz as encomendas mais rapidamente que a UPS e, no meio disto tudo, só não se compromete a curar doenças venéreas e bicos-de-papagaio. Ah, tem também o bom senso de não prometer títulos para o Benfica. Isso sim, seria o cúmulo da ingenuidade...
Gosto particularmente de pormenores deliciosos como "supermagia". Que mais poderá daqui nascer, senhores? Hipermagia? Teramagia? Magia-98- octanas...? Este cavalheiro trata por tu os doze maiores especialistas de supermagia multicolor (3) e sabe mais das lides do oculto que o Nuno Rogeiro das guerras dos Balcãs.

(1) Ainda não me recompus do triste dia em que destronaram impunemente a minha querida Isabel Figueiras, capa da Maxmen com o seu enorme e exuberante par de olhos. Canalhas!!! Vou já mandar lançar uma “super-macumba-com-cogumelos-e-extra-queijo” sobre o sacana responsável...

(2) Para as pitas que lêem isto, isso das Bic eram umas esferográficas muito pobrezinhas, que na altura eram vistas como um expoente tecnológico extraordinário

(3) Mais uma piadola enfadonha sobre o engenheiro Guterres

Não perca o próximo –e último capítulo- desta saga "AstroWars: o Regresso de Faty", num ecrã perto de si.
Deixo ainda um ciber-beijinho à amiga Ana "Alcina" Isabel (quem tiver o e-mail dela, faça favor de me mandar) venerável cartomante e saudosa adversária de infindáveis rounds verbais sobre estas coisas da "Astro-tanga" e derivados.

Baú