"Eh, toiro" - parte II (e chega bem)
Olá outra vez
Aqui vai então a transcrição da coluna da D. Isabel...
«É tempo de férias, tempo de contar histórias divertidas, tempo de recordar e ...tempo para pensar, aproveitando o tempo de ócio –oposto ao tempo de negócio- característico das férias. Comecemos então pela história, que além de engraçada, é verdadeira.
(...)
Esta história, verídica, foi recordada por um tio que no-la contou ao serão após um jantar familiar. Ele e a minha mãe são as memórias vivas da família, as pessoas que costumamos "atormentar" para que nos contem os costumes da época, da nossa família. É esta uma das actividades típicas de férias que se pode usufruir na praia, entre dois mergulhos, ao café, ao jantar...
Mas às praias estão a chegar outros toiros que marram de lado e sem prevenir. Contrariamente ao toiro "náufrago" não chegam cansados à areia. Vêm dispostos a atacar e causar estragos. Chegaram os toiros do consumismo, da vida fácil, do convívio indescriminado, da moda despudorada, da falta de ordem na alimentação, nos horários para refeição e descanso. E é de ver as colhidas: filhos que se iniciam numa vida de vícios –alcoól, drogas, sexo, jogo- casais que se separam, pais idosos abandonados...
E é de ver os "colhidos" a procurarem os hospitais da vida, sem os encontrar e sem perceberem o que lhes aconteceu ou como lhes aconteceu esta ou aquela desdita. Desabafam as suas tristezas e não há quem os queira ouvir e ainda menos ajudar. Se ouvem algum bom conselho, no sentido de mudarem de vida, de passarem a viver num ritmo ponderado pela razão e disciplinado pela vontade, fogem como covardes e qualificam-no de retrógrado.
Se alguma mulher se destaca em algum pequeno pormenor de falta de pudor, é fácil que venha a ser classificada, pelo menos trato, de pouco honesta, pois começa por ser olhada e depois interpelada, embora use aliança no dedo anelar. Se um homem tem por hábito beber um pouco acima da conta, pode acontecer que comece a ter comportamentos de que virá a envergonhar-se mais tarde ou, pior ainda, que venha a perder essa vergonha (o toiro pode colher o forcado e deixá-lo sem sentidos), sinal de que já não consegue distinguir o bem do mal.
Saber estar nas praias sem ser colhido, é toda uma arte de bem tourear. Uma "verónica" para a direita para evitar olhar o reduzido "bikini" que se apresenta à esquerda. Um lançar o capote para a frente, para poder tapar a túnica transparente de quem passa ao lado. Um "par de bandarilhas" bem colocado –reprimenda, castigo- quando se torna necessário refrear a força do toiro (um pai retirou por um ano, o automóvel a um filho, que não respeitava as horas de recolher a casa). Uma fuga atempada para a "trincheira", desviando caminho, para evitar o enfrentamento com um grupo conhecido pelo seu comportamento agressivo.
Ao terminar o Verão, com a família toda reunida, descansada e bem disposta é altura dos aplausos, saída em ombros, cauda e orelha na mão, ramos de flores aos pés e soando bem alto aos ouvidos um grande OLÉ!»
in O Almonda, 5 de Setembro de 2003
Texto da autoria de Isabel Costa
Enfim, caro leitor...não consigo tirar este sorrizinho de felicidade da cara...Como é que o posso descrever...? Já sei: faz lembrar o mercador fenício Epidemias (1), enquanto vê a dupla-maravilha desancar as legiões romanas em alto mar...E não me apetece dizer mais nada. Se vos apetecer, escrevam.
Um grande abraço ao recém-chegado Rui Lopes, perdido por alguns anos em terras de Sua Majestade (http://picuinhas.blogspot.com)
(1) Vide "A odisseia de Astérix" (Goscinny/Uderzo)
segunda-feira, setembro 15, 2003
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