terça-feira, setembro 16, 2003

HÁ COISAS QUE NÃO SE DIZEM

Saudações à  diàspora que constitui o meu fiel auditório, espalhada um pouco por todas as alas psiquiá¡tricas deste jardim à beira-mar plantado...

Pois é, pois é, há coisas que não se dizem e, principalmente, não se deviam ouvir. Nunca. Mas na vida real, a coisa não funciona bem assim. Há uma série de clássicos do horror, tão familiares como o Manuel Luis Goucha nos programas-de-encher-chouriço das manhãs da televisão.

O "Gosto de ti como amigo"´constitui um autêntico paradigma destas vilanias verbais. Quem é que nunca levou com esta "bomba-G" nos queixos? Ai do pobre suporte genital, que embate no solo com um fragor considerável, ao ouvir este exemplar de barbárie verbal... E que dizer dos infelizes eufemismos usados nestas ocasiões, que supostamente deveriam consolar a alma enegrecida do "pontapeado"...?! É como tentar apagar fogo com gasolina, que a bem dizer, se sabe ter uma composição química pouco dada a essas coisas. A ver se nÃo me esqueço de "postar" um texto lindí­ssimo sobre estas coisas, um diálogo transcrito de um episódio do "Seinfeld". Pode ser mais batido que a história do assentador de tijolos de Cascais, mas é daquelas trovas que são transmitidas de pai para filho, as jóias da família na verdadeira acepção da palavra.

O ego masculino é, por noema, uma construção pouco mais sólida que as pontes pedonais do IC19 e está pronto a desmoronar-se ao sinal de uma qualquer brisa mais avantajada. Bem, isso da brisa, ainda vá que não vá. Agora, perante certos tornados como "Já acabaste...?" ou "Que giro, tão pequenino...", não há Forte do Guincho que resista. Estas bocas, não as desejo nem ao José Mourinho.

Mas as meninas também levam umas lambadas verbais valentes, de vez em quando. O que só lhes faz bem, diga-se. Ajuda a formar carácter e torna as bochechas mais rosadinhas. Basta pensar no sex-appeal próprio das mulheres nortenhas... Pérolas telegráficas como "És uma miúda espectacular, bué inteligente e com um excelente sentido de humor. Pena seres gorda. Adeus." ou "Eu até gosto de ti, és uma fixe, mas a que a minha ex telefonou-me e tu não podes competir com isso. Basicamente.". Ou então, simplesmente, "És gorda" (curto e grosso, sem polimentos e extras). "És uma baleia" (analogia zoológica), "És desmesuradamente obesa, nem penses", "Tenho três palavrinhas para ti: Jose-Maria-Tallon...". Finalmente, o golpe de misericórdia: "Tu queres o quê!!?? Meu rico cXXXXXXXXX!!!!"

E há ainda outras perfídias que a malta pensa, mas prefere guardar para os seus botões, porque pareceria muito mal e não convém denegrir a nossa imagem no mercado. Estas coisas vêm sempre a lume e não há coisa mais volátil e imprevisível que a Bolsa do Gajedo. Essas, obviamente, vou-me coibir de as enunciar. Perguntem ao vosso respectivo, se quiserem.

Mas há expressões ambidextras que também vão preenchendo regularmente o infame livro da desculpites esfarrapadas, mais andrajosa ainda que o guarda-roupa de um festival hippie. A saber, "A culpa não é tua, é minha", "Não te mereço", "Estou confuso (a)", entre tantas outras. Há gente que lida com estas coisas com o tacto próprio de um elefante às compras numa loja de porcelanas, mas a vida é mesmo assim. Um dia é da caça e o outro, do caçador.

Despeço-me com o grotesco "eu gosto de ti, mas, sabes, vem aí o Verão..." Esta aconteceu mesmo. Nõ gozem, amanhã pode ser a vossa vez...


Um beijinho para a amiga Susana Quintela

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