terça-feira, dezembro 30, 2003

O Ano Novo, esse festival de pornografia oral...

Dei pela coisa por acidente, como sucede com a grande parte das descobertas científicas: uma vizinha de idade respeitável deseja-me as costumeiras "boas entradas e melhores saídas". E a coisa até podia ter ficado por ali. Mas não.
"Boas entradas"...? "Melhores saídas"... Fez-se luz e só nesse momento me apercebi do que isso, verdadeiramente, quer dizer. E corei, claro está. Sinto-me intimidado face a septuagenárias descaradas.

segunda-feira, dezembro 29, 2003

Anos a fio de trabalho em call centers permitiram-me chegar à seguinte máxima confuciana: "lamento imenso" é apenas uma forma mais refinada de dizer "estou-me a cagar".
Se porventura feri a sensibilidade de algum leitor com este linguajar...olha...lamento imenso...

sábado, dezembro 27, 2003

A colectividade União Desportiva de Nafarros (Sintra) vai organizar um simpático "rabalhón", como se diz em estrangeiro. So far, so good. No entanto, no cartaz que anuncia o evento há um pormenor que me deixou ligeiramente confuso. Passo a citar:

«Baile com o famoso trio musical: Agostinho e Xavier»

Trio...Agostinho e Xavier...?

Am I missing something here..?

terça-feira, dezembro 23, 2003

Querido Pai Natal,

este ano que passou portei-me muito bem. Mesmo muito bem.
Sendo assim, a prenda que mais gostava de receber era a Merche Romero. Pode vir só com um lacinho que é para não dar muito trabalho a desembrulhar.
Se não for possível, então pode ser umas meias. Das mais bonitas.

P.S - Já sei o que te pediu o lambão do Luis Costa Branco. Se souber pelas revistas que ele anda a comer a Merche, vou deixar de acreditar em ti.

André

sábado, dezembro 20, 2003

A pedido de várias famílias resolvi rebuscar no Ecoponto meia dúzia de linques para as velhas glórias do Parque, dos tempos idos em que ainda me dava na telha para redigir autênticas bulas da maledicência. Entretanto ganhei juízo, está visto. Para quem ainda não conhece, acho que vale a pena dar uma espreitadela. Mas vendo bem, aos olhos da mãe coruja os seus filhotes são mai´lindos que um desses postais com o pôr-do-sol das Edições Paulistas, não é verdade...?

Dez razões (ou mais) para não suportar o Pedro Abrunhosa

Assim vão as glórias do tuning - parte I

Assim vão as glórias do tuning - parte II

Assim vão as glórias do tuning - parte III

sexta-feira, dezembro 19, 2003

Ontem fiquei espantado com a execrável programação da televisão portuguesa por volta das 00H30, i.e, com a SIC e a TVI (nem reparei no que estava a dar na RTP). Até aqui, ainda dava qualquer coisa de jeito a partir das 23h00, quando já toda a gente devia estar na cama...Agora, nem isso:

A SIC brindava-nos com o mentecapto Fernando Rocha. Como é que esse energúmeno tem direito a boneco num programa só dele...? Não consigo entender o sucesso que esse cavalheiro alcançou, sinceramente. Isso de debitar brejeirice e fazer cara de atrasado mental não tem grande dificuldade, principalmente quando a matéria-prima é tão propícia a esse fim.

O problema é que, além da santa mãe do senhor, há mais um batelão de portugueses que gosta e -pasme-se- até compra o cd do animal. Qual é a piada daquilo!!!!!? A cassete da "anedota picante" já está mais que enterrada, morreu com o António Calvário...Ah, esse ainda está vivo, peço desculpa. Corrijo: o reportório está morto, o cançonetista ainda não.

Há tipos cheios de talento nessa história do "Levanta-te e ri", pelo que não compreendo como é que aquele primata ainda tem direito a tanto tempo de antena...

Quanto à TVI, passava a gala das "Canções de amor". Já não há pachorra para os programas de merda da TVI!!!! Desculpem lá o lapsus vernaculae, mas fiquei mesmo agastado com a verborreia estupidificadora dessa gentinha dos "Morangos com açucar" e derivados. Chego a casa e encontro os meus progenitores a vegetar frente à televisão, entricheirados na desculpa peregrina do costume: "Não está a dar mais nada de jeito..."


Maldita hora em que codificaram o canal 18.

quarta-feira, dezembro 17, 2003

Após exaustiva ponderação, não consegui apontar diferenças substanciais entre o Fernando Mendes e o "Glutão" do Presto.

terça-feira, dezembro 16, 2003

"- Então, já experimentaste o Pipi?"
"- Hã...??!!"
Há conversas que não se pode ter com um "civil"...
Este texto é simplesmente brilhante. Nem mais nem menos.
Para quem (ainda) não conhece Eurico Cebolo, fica aqui o portal para essa dimensão mística.
Para o pessoal do Fan Club, constou-me que vai sair para o ano um filme do Spielberg intitulado "Indiana Jones e os Salteadores do Falo Perdido": uma singela homenagem de Hollywood ao legado inestimável desse grande senhor.

segunda-feira, dezembro 15, 2003

Decorrerá amanhã em Genebra a gala da eleição do "Homem Mais Feio do Mundo". Para gáudio da lusa gente, sucede que temos três candidatos no "tópe téne":

-Emplastro
-Adelino Granja
-Odete Santos

A fazer fé nos rumores, Adelino Granja leva um mísero nariz de vantagem. A coisa promete.

sábado, dezembro 13, 2003

Ora aqui está um lindo conto de Natal.
Mais uma pérola saída do nosso bom velho pasquim:

"Orgia vai a tribunal na China" (in Correio da Manhã, 13/12/03)

Faz todo o sentido, realmente. Se as senhoras se predispõem de forma tão amável a fazer domicílios e festas da PJ, porque não dar um pulinho ao tribunal...? E um franchise, porque não? A saudação telefónica é mais que previsível: "TelePuta, boa tarde, fala Cátia Vanessa..."

quarta-feira, dezembro 10, 2003

Durante um passeio matinal até ao mercado, deparei-me com a seguinte inscrição na porta de um prédio: "Proibida a entrada a pessoas estranhas". Se estivesse afixado na palhota comunal onde resido, metade dos inquilinos teria que dormir ao relento...

terça-feira, dezembro 09, 2003

(Mais um) Natal dos Hospitais...
Será moralmente pouco defensável sujeitar uma criança a ouvir a Rute Marlene, o Emanuel ou Sua Majestade do Pimba, El Muy Fanhoso Marante. Agora, estando essa criança doente...?
Que crueldade!!!!
A César o que é de César...

Pois é, o novo escândalo casapiano dos Açores veio desmontar definitivamente um dos mitos mais acarinhados pela malta fixe do Estado Novo: os comunistas comem criancinhas.
Assim sendo, vamos lá repôr a verdade das coisas: os socialistas comem criancinhas. Agora sim. Perfeito.

segunda-feira, dezembro 08, 2003

Extraído do Correio da Manhã de 06/12/03:

«Dois adolescentes, de 13 e 14 anos, tiraram a outro de 16, Rua de Olivença, Algés, 30 cêntimos e um bilhete de identidade

Canalhas!!!!!

sexta-feira, dezembro 05, 2003

Vou organizar uma simpática excursão de fim de ano a Bragança, a fim de degustar o mais afamado representante da gastronomia local.
Não é esse, é o puré de castanhas...

quarta-feira, dezembro 03, 2003

Dei comigo a meditar na primeira frase do anúncio do "Mon Chéri", mais concretamente «Sabes o que me apetecia agora...?»
Com aquela abençoada filha de Eva ali ao alcance da mão, o cavalheiro entende que lhe apetece um chocolate... Enfim...
Seja eu ceguinho, se não me passam pela cabeça aí pelo menos uma vintena de alternativas bem menos apanascadas...

sábado, novembro 29, 2003

02H00: zumbido irritante no perímetro orelhal
07h00: meia dúzia de marcas do crime espalhadas por mãos e braços
07h03: Fenistil
07h06: mancha de sangue na parede

Há assuntos que nunca chegam à barra do tribunal. Três vivas ao pragmatismo da justiça sumária.

terça-feira, novembro 25, 2003

Capitão Iglo detido pela PJ em flagrante delito, enquanto exibia orgulhosamente o seu "douradinho" a uma transeunte...

sábado, novembro 22, 2003

Então não é que aqui o Parque ganhou um "prémio"...? Mais estranho ainda: o "galardão" foi atribuído com base em critérios estéticos...

sexta-feira, novembro 21, 2003

Já viram aquele novo anúncio da McDonald´s com a banda sonora dos Da Weasel...? Não sei, acho que há ali uma promiscuidade ideológica muito estranha. É como ouvir o Sérgio Godinho a cantar o "Stars and Stripes" com a mãozita a bater no peito e a olhar enternecido para a bandeira...Enfim, ainda sou um bocado ingénuo, em relação a estas e outras tantas coisas.

quarta-feira, novembro 19, 2003

Quem já teve lições de música conhece certamente os livros do mítico Eurico A. Cebolo, com aquelas fatiotas muito fashion dos tempos do Estado Novo. Esse avô do Avô Cantigas publicou também algumas pérolas literárias com títulos do género "Freira Marota e Levada para a Brincadeira", "Meretriz Recatada e Ingénua" e coisas do género. Leiam esta "postada", é qualquer coisa de extraordinário.

terça-feira, novembro 18, 2003

DA CHAPELEIRA E OUTRAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O Homo Suburbius
(Parte Segunda)


Para quem quiser ler a Primeira...

A atenção do recém-promovido chefe de família vira-se então para os fundilhos do habitáculo, mais propriamente para o triângulo das Bermudas vulgarmente conhecido como CHAPELEIRA. Esse "buraco negro" suga para os seus domínios os mais inesperados objectos. Mas já lá vamos.

Suponho que a origem do termo esteja relacionada com a atracção magnética que essa área gera sobre aqueles chapéus de palha (panamá) a fazer lembrar um turista britânico de férias no Ferragudo. A acompanhar o panamá vamos encontrar com frequência um cachecol da Selecção. Como somos um povo tão desmesuradamente patriota, o porta-luvas esconde sempre uma edição d´"Os Lusíadas", um exemplar do Tratado de Zamora e uma cassetezinha com "A Portuguesa", para o que der e vier.

Os portões deste Hades são guardados por sanguinários mastins de pelúcia, ostentando muitas vezes uma águia ao peito ou outro qualquer banner elucidativo da pinta do animal. Ou melhor, dos animais: o cãozinho e o condutor... O planalto chapeleiro vê-se normalmente revestido por um tapete muito quentinho, não vão os pobres animaizinhos ter frio nas patas. Os motivos preferidos são o tigre da Malásia (secundado por umas garatujas orientais) e a inelutável bandeira do Glorioso. Coisa de fino gosto, diga-se, como é apanágio do Homo suburbius.

sábado, novembro 15, 2003

Passei ontem os olhos pelo VH1, mais concretamente pelos videóclipes do "The Artist formerly known as Prince". Aqueles gritinhos e a roupa justa sugerem um subproduto da intersecção entre uma rainha de arrasto (ou drag queen, para os mais puristas) e um matador de toiros espanhol, com as jóias de família mais apertadas que um passageiro do Metropolitano de Lisboa em hora de ponta. Ou coisa do género. As dançarinas, isso sim, sempre muito "saudáveis". Muita vitamina andava por ali, sem dúvida.
Sendo assim, eis o motivo que me trouxe ao Speaker´s Corner do Parque, nesta macambúzia tarde de Sábado: resolvi mudar de nome. É verdade. A partir de hoje, quero ser conhecido por "The Gardener (formerly known as André)". Só não sei onde vou desencantar a comitiva feminina cheia de "saúde", consentânea com a dignidade e temática do Parque, visto que as zelotas ecologistas de esquerda deixam muito a desejar... (1)

(1) Sim, porque já se sabe que as meninas que não sabem combinar a roupa acabam por não ter outro remédio, que não o abraçar com redobrado vigor as utopias marxistas...

sexta-feira, novembro 14, 2003

Alguém que partilha a minha aversão por essa praga dos cãezinhos amorosos e afins. Vale a pena dar uma espreitadela.

terça-feira, novembro 11, 2003

DA CHAPELEIRA E OUTRAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O Homo Suburbius
(Primeira Parte)


O típico cavalheiro que leva a família a passear ao Colombo no fim-de-semana esconde frequentemente um inesperado zelota da decoração de interiores, revelando-se na intimidade do seu "templo" particular: o automóvel. O "como" e o "porquê" seguem dentro de momentos.

O jovem tuner acaba inevitavelmente por contrair matrimónio com uma operadora de caixa do Minipreço, gerando um património genético que faria muito boa gente (como aquele rapazola austríaco do bigodinho engraçado que tinha a mania que era ariano) dar uma volta na tumba. Essa ideia infelizmente mal interpretada da Solução Final encontraria aqui uma aplicação muito plausível...

Pois que o visado acaba de comprar o seu "familiar" (uma "excelente aquisição", pelo menos a fazer fé nas palavras do vendedor). e já o seu pensamento ruma a pleno-vapor para os mares das artes transformacionais. Não conseguindo lutar contra o seu ADN 100% racing, acaba por congeminar um ardiloso plano, com o secreto objetivo de levar a esposa a aceitar a instalação de uma escape de rendimento. Leva-a a um restaurante no Guincho, recordando-lhe repetidamente que não iria olhar a despesas. Dói-lhe no bolso e na alma, mas os fins justificarão certamente os meios. A meio do idílico jantar à luz de velas, acaba por "pop the question" e...num arrojado golpe de rins, desvia-se mesmo a tempo de um ameaçadoramente balístico garfo de peixe... Finda a árdua batalha negocial, acaba por conseguir autorização para a implantação de um ambientador-pinheirinho, uma capa para o volante e um par do mesmo para os bancos, daquelas muito catitas do "Mique" e da "Mine"...

Não perca o desfecho da história, num "post" perto de si.

sexta-feira, novembro 07, 2003

Não sei qual das notícias me deixou mais surpreendido: o facto de o Benfica ter ganho um jogo, ou a detenção dessas duas senhoras do jet-set: Betty Grafstein e José Castelo-Branco...

quinta-feira, novembro 06, 2003

Então não é que o Sexo e a Cidade vai acabar...? Não desesperes, Inês, ouvi dizer que vem um substituto à altura...
Porque é que as caixas do Minipreço/Dia são todas feias?
(e outras reflexões avulsas sobre o ideário da beleza feminina-parte quarta)


Há uma dúvida que me tem azucrinado o juí­zo desde que (com tenra idade) comecei a frequentar o Minipreço: porque será que as operadoras de caixa são todas feias?
É uma coisa impressionante, não há uma única freira que salve a honra do pobre convento. Para quem não seja particularmente entusiasta da esmagadora maioria das pilosidades femininas, os autênticos bigodes à  la siamês orgulhosamente ostentados serão tudo menos populares. (1)

Porquê esta obsessão? Será que há uma espécie de acordo tácito, sendo que nenhuma outra cadeia de abastecimento grossista aceita esta diáspora nas suas fileiras? Será que o binómio feia/malfeitona é uma espécie de sinistro pré-requisito de acesso ao grupo Minipreço/Dia? Será que querem diminuir propositadamente o número de clientes, para não haver filas tão grandes nas caixas? Será que nunca mais me calo...?

Genericamente, a vida é mais fácil para as pessoas bonitas. Há todo um mundo de vantagens a considerar, mais ou menos relevantes, consoante o género (masculino/feminino) em apreço. Vejamos:

-maior facilidade em encontrar parceiro com quem procriar (ou apenas uma voltinha ocasional)
-entrar nas discotecas à  borla (ou quase)
-faculdade de receber convites para jantar com o regente da cadeira (as feiosas e os gajos têm mesmo que estudar)
-participação em produções cinematográficas de alto gabarito, envolvendo arquitectos reputados
-grande popularidade junto do pessoal da construção civil
-apresentação de programas de televisão
-carreira na publicidade a vender crédito bancário ou champô
-lugar cativo naquelas festas das revistas, cheias de maricões do social (vantagem discutí­vel)

Sempre achei um piadão a essa história da "cruz terrí­vel" que é o assédio, blá, blá, blá. Tadinhas.

(1) Convém dizer "buço", porque parece mal sugerir que uma senhora tem bigode. Mesmo quando é por demais evidente que tem. E especialmente nessas ocasiões.

Um beijinho para a Susana Ramiro, companheira desta e de tantas outras transcendentes reflexões

terça-feira, novembro 04, 2003

Porque é que as caixas do Minipreço/Dia são todas feias?
(e outras reflexões avulsas sobre o ideário da beleza feminina-Parte Terceira)


Algumas aberrações saídas do mundo da música (e possivelmente, da pornografia) como a Samantha Fox fizeram as delícias da pequenada durante a década de oitenta. Cantava como um rouxinol, aquela rapariga...Isso e o facto de cobrir as latitudes peitorais com um majestoso "size 52". Vá lá, "48-biqueira larga". E não desço mais.

"-Ah, ela cantava...?" –cogita o meu caro leitor. A Sabrina era outra do mesmo género.

Aquele videoclip da rapariguita em cima do cavalo, tal e qual veio ao mundo (a Bo Derek) ajudou a trazer algum colorido às noites solitárias de muito adolescente lusitano. E às noites, acompanhadas, dos pais deles, também...Sempre dava para voar nas asas da imaginação.

"-Então, mas, ela cantava...? A Samantha Fox...?"

Estrelas de cinema e televisão como aquela galinhagem toda do "Dallas" encheram as capas das revistas dessa altura. Gente com muita saúde, diga-se. A caminho dos noventas chegam as Lindas Evangelistas, Claudias Chifre, Cindies Crawfordes, Elles MéquePhersones (minha Nossa Senhora, esta mulher...) e quando dei por mim, descambou tudo na Kate Moss...Nunca percebi a piada dessa história das modelos com corpo de adolescente subnutrido e suporte peitoral tristemente proporcional. Felizmente, essa ideia parva já está mais que moribunda.

"Mas a Samantha Fox...cantava? Agora, a sério...?

sexta-feira, outubro 31, 2003

Passe de mágica...
Faz coisa de dois mil anos, um indivíduo muito particular destacou-se por caminhar sobre as águas, ressuscitar os mortos e transformar água em vinho com maior rapidez que as adegas cooperativas da zona de Torres Vedras. O novo miracle worker da praça é o excelentíssimo candidato da lista C (1) à presidência do Glorioso, o senhor Guerra Madaleno. Se o homem consegue sacar da cartola o Rivaldo, o Rui Costa, o Júnior, onde é que este "Messias da redondinha" irá parar? Dêem-lhe espaço de manobra e o "Mandrake das sobrancelhas hirsutas" vai conseguir tirar o Cruz da cadeia, esmagar o défice público e acabar com o temível flagelo da calvície masculina.
Perdoai-lhes, Senhor, eles não sabem o que dizem...

(1) eufemismo para "coitadinho do senhor, parece uma coruja com as sobrancelhas do Álvaro Cunhal"

terça-feira, outubro 28, 2003

Porque é que as caixas do Minipreço/Dia são todas feias?
(e outras reflexões avulsas sobre o ideário da beleza feminina-parte segunda)


Os mais famosos quadros impressionistas vêm carregados dessas "Vénus de 10 arrobas", susceptíveis de dar a volta à cabeça de qualquer cavalheiro de chapéu alto e aba de grilo, a passear pelas margens do Sena. Hoje em dia, se desse a volta a alguma coisa, só poderia ser mesmo ao estômago...As primeiras pin up´s poderiam ser chamadas de tudo, menos elegantes. E não me venham com a cantiga que a elegância é um estado de espírito, mais uma ou outra mentira piedosa, dessas que enchem as páginas das revistas femininas. Aqueles rabos estavam mesmo a pedir uma placa de veículo longo. (1)

Na onda do eufemismo lipidinoso, os termos "fofinha" e "forte" escondem, não raras vezes, realidades abomináveis. O conceito de "mulher fofinha" é vulgarmente geminado com o de "balança decimal". Como se duas gotas de água se tratasse.

Sex-symbols como a Rachel Welch, Rita Hayworth e a Marilyn vêm dar outra piada à coisa. A Brigitte Bardot também não esteve nada mal, diga-se. Agora já está acabadita e resolveu virar-se para os animaizinhos. Esperemos que não faça como aquela deputada italiana, que tem uma exótica apetência pela interacção com o reino animal...
(1) Esta constatação vai direitinha em homenagem à minha afilhada Ana Fernandes

quinta-feira, outubro 23, 2003

Porque é que as operadoras de caixa do Minipreço/Dia são todas feias?
(e outras reflexões avulsas e incoerentes sobre o ideário da beleza feminina-parte I)


O conceito de beleza feminina foi coisa que mudou com maior frequência que os governos na Itália do pós-guerra. Aquelas estatuetas da Vénus de Willendorf, Milo e afins sugerem que grandes (leia-se descomunais) suportes mamários estariam directamente associados à fertilidade feminina. O conceito de "boa anca parideira" (um must destas coisas que sobreviveu de forma infame até aos nossos dias) esteve também desde sempre associado a este ideal de mais eficiente propagação da espécie. "Gordura é formosura": quem é que foi o imbecil que inventou esta...Deve ser o mesmo que achou muy formosas as senhoras da bochecha rosadinha, com certeza.

O ideal renascentista levava ao colo a mulher anafadinha e...anafadinha???!!! Ai, até dói! Os eufemismos que se inventam para suavizar uma tão triste realidade... Qualquer nú renascentista (não me atrevo a chamar-lhe artístico, porque fere a minha sensibilidade estética) apresenta uma baleia desnudada com contornos vagamante humanos, como quem implora aos céus por uma piedosa mamoplastia redutora. E se não implora, devia ter a decência de o fazer...!!!
A provocação continua no próximo espisódio. Atreva-se a comentar, Alice medrosa...

sexta-feira, outubro 17, 2003

E SE UM DIA EU ESCREVESSE QUALQUER COISA SÉRIA...?

Tem piada, como é infinitamente mais fácil confidenciar certo tipo de coisas ao Mundo, do que a uma pessoa em particular. Umazinha. É tão simples abrir uma janela para a alma, sem quaisquer controlos aduaneiros, onde qualquer estranho pode entrar, conhecer, perscrutar, remexer, tudo nos domínios indefinidos do ciberespaço. Sem compromissos, de forma impessoal. Inócua. Como é conveniente e cómodo o refúgio na multidão, diluindo-se a força de palavras tão concretas e pesadas numa espécie de tímido e inofensivo infinitésimo. Qualquer um se pode dar ao luxo de o fazer.
Até eu.
Agora, interagir com alguém que está ali a dois passos, isso é muito mais complicado. Nada tão delicado como as relações humanas e as pessoas reais. Face a face, sem o escudo protector, a coisa fia muito mais fino.
Isto do escrever –seja a palhaçada do costume ou qualquer coisa um bocadinho mais séria- tem para mim qualquer coisa de profundamente libertador. Coisas do efeito exorcizador do teclado. Diz este gajo aqui em baixo...:

"Deste modo ou daquele modo,
Conforme calha ou não calha,
Podendo às vezes dizer o que penso,
E outras vezes dizendo-o mal e com misturas,
Vou escrevendo os meus versos sem querer,
Como se escrever não fosse uma coisa feita de gestos,
Como se escrever fosse uma coisa que me acontecesse
Como dar-me o sol de fora."

Poemas de Alberto Caeiro/Obras Completas de Fernando Pessoa

Hoje deu-me para isto, o que é que se há-de fazer...? Prometo que o Parque vai voltar à linha editorial do costume, dizendo mal de tudo e toda a gente. Catita. Aí, sim, já as engrenagens do Cosmos poderão voltar ao trilho do costume e tudo voltará a fazer sentido novamente. Como se quer, não é verdade?

Beijinhos e abraços para toda a imensa minoria que me lê, ouve e encara face a face...Toda.


terça-feira, outubro 14, 2003

É UMA TV PORTUGUESA, COM CERTEZA...
Hoje resolvi escrever uma letra, para terem qualquer coisa para trautear durante a tarde. A música original é aquela da "Casa Portuguesa". Silêncio, que se vai assassinar um fado...:


Letra: Minha Música: não m´alembra, tenho que ir ver

É uma TV portuguesa, é com certeza, é com certeza uma TV portuguesa

Numa casa portuguesa fica bem
Um serão frente à TV,
A gramar toda a miséria que lá vem
Como a merda do "BB"...
Fica bem, essa feliz programação,
Pró povo ficar contente.
É preciso é alegria,
Não perdoa a audiometria...
Venha share cá p´á gente!!

Refrão:
Já só falta uma novela, para fazer o quarteirão,
Mas as estopadas da Quatro são de longa duração...
Anda tudo em alvoroço, logo à noite há nomeação,
Quem quer saber dessa treta da saúde e habitação...?

É uma TV portuguesa, é com certeza, é com certeza uma TV portuguesa!!!

Já é tempo do jornal do TVI,
é uma hora de desgraça:
Cataclismos, assassínios e velhotas
Bem mais chatas que a potassa...
E o queixume da peixeira do Bolhão,
Que tem falta de dinheiro...?
Interpela o Presidente:
"É por demais evidente,
Eles querem é poleiro!!!!"

Refrão:
Subam todos para bordo da feliz composição
O Monchique é maquinista,
E o Herman, o vagão...
Como sinal de partida, dá o Fernando a "caralhada",
Quem se rala? O povo gosta...
Acha até muita piada...

É uma TV portuguesa, é com certeza, é com certeza uma TV portuguesa!!!

E "prontos", fico à espera dos comentários. No sítio do costume.

sábado, outubro 11, 2003

O meu irmão dedicou-me duas linhas de fraternal amizade no Guestbook. A beleza desta história dos artigos de opinião com direito a comentário é que qualquer criatura pode desancar alegremente o autor dos textos. Não me aborrece nada, pois quem vai à guerra acaba por comer, inevitavelmente duas ou três lambadas. Mesmo nestas alturas, não me arrependo minimamente de partilhar com o Mundo o que penso das coisas, quer sejam entendidas, ou não, como reflexões de gajo abichanado. Prefiro correr o risco da humilhação ao escrever certo tipo de coisas do que limitar-me a ser um mero -e passivo- treinador de bancada. Mil vezes a crítica -por mais mordaz que seja- do que a indiferença. Com essa, sim, tenho grande dificuldade em lidar.
Espero não ser interpretado como uma espécie de virgem ofendida, porque a ideia não é mesmo essa. Suponho que é mesmo verdade aquela ideia de que ninguém é grande profeta na sua terra. Ou neste caso concreto, em sua casa. As bocas são benvindas, sempre ajudam a elevar a fasquia e frear o ego.

Em todo o caso, isso de achar que alguém é paneleiro apenas por reflectir sobre certos fantasmas masculinos... Enfim, parece-me um bocadinho exagerado, no mínimo. Deve ser um desses complexos dos engenheiros enfezaditos, que comparam o comprimento das vigas quando vão urinar. E só sacodem três vezes, não vá estar alguém a contar...

quarta-feira, outubro 08, 2003

PENSO, LOGO EXISTO... Round IV e último

Se bem m´alembra, a grande parte (se não, totalidade) destas obras de arte publicitária que nos chega às mãos resulta simplesmente de meras dobragens do original em espanhol. Depois é só juntar água e o tuga que coma e cale. Quanto ao resultado final destas sinergias duvidosas, não sei se me apetece rir ou chorar. Vamos ver...

Acho delicioso aquele da tipa feoisa –saída certamente de um papel de prostituta de um filme do Almodovar- que surpreende uma jovem que vai a caminho da casa-de-banho com o dito artefacto na mão:

"- (...) Trouxe confettis... "-diz a aventesma escarlate para a jovem...

A tragédia, o drama, o horror...

"Ana, te gustas de Ausonia fina y segura?" foi outra pérola que fez escola, resultando num pesado fardo para todas as Anas portuguesas (1) a passar pela Primavera da Vida na altura... Depois havia também o outro do adorável cágadozinho com os dizeres "Estoy perdida" , sendo que a seguir ganham uma viagem ao México e...e... QUE MERDA É ESTA!!??? Desculpem lá o linguajar, mas às vezes é preciso chamar os nomes aos bois.

"Tanga Girls": mais um para a sanita. A jornalista está a apresentar o jornal e depois começa a bambolear o rabo que Deus lhe deu e começa tudo a dançar e...Enfim, há dias em que me sinto muito cansado. Muito cansado, mesmo.

Encontrei uma réstia de lucidez naquele anúncio em que o rapazito confessa limitar-se a comprar chocolates e dar mimos. E é tudo o que um gajo precisa de saber.

Um beijinho para a Cláudia Marina

(1) Não se queixem muito as Anas eventualmente visadas, porque eu tive que gramar com o "André Cajarana" (da novela "Pai Herói", onde contracenava o orangotango que dá pelo nome de Tony Ramos) durante os quatro anos do primeiro ciclo do ensino básico.

segunda-feira, outubro 06, 2003

Portugueses e portuguesas,

Passei de ano!!! É verdade!! Isto para vocês deve ser tão interessante como o espaço de direito de antena do Sindicato dos Trabalhadores dos Têxteis do Vale do Ave. Verdade seja dita, consigo viver perfeitamente com isso.
Não perca o épico desfecho da saga do "período" e derivados, num blogue perto de si.

sexta-feira, outubro 03, 2003

PENSO, LOGO EXISTO... Round III


Importa não esquecer um actor com papel principal nesta "Tragédia da Rua das Dores": a temida TPM (1) . Esta malfadada sigla faz tremer de pavor qualquer homem de barba rija. Isso de navegar para o tenebroso desconhecido, dar novos mundos ao mundo e etcs é coisa de amadores, comparado com o jogo de cintura que é preciso ter para com as senhoras nestas alturas. A minha excelsa pessoa já teve que lidar com crises agudas dessa maleita e, devo dizê-lo, não é pêra doce. Ah não, caro leitor!!

Mas a coisa não fica por aqui. Era bom, era. Na esteira deste proto-Adamastor segue esse outro mito nada menos melindroso: o penso higiénico. Quem são, para onde vão e para que servem? Na prática, trata-se apenas de mais uma dessas "coisas de gaja", a juntar ao lip gloss, ao cabelo escadeado e aos livros do rabeta do Paulo Coelho (2)

Posto isto, levantam-se uma ou duas questões que estão na base das mais agudas crises existenciais: Quem somos? Para onde vamos? Qu perfil de alma doentia opta pela Ginecologia? E, inevitavelmente, PORQUE É QUE OS ANÚNCIOS DOS PENSOS HIGIÉNICOS SÃO TÃO IMBECIS?!

(1) No papel, seria o acrónimo para "Tensão Pré-Menstrual"; na vida real, está muito mais próximo de "TÁS PARVA OU QUÊ, MIÚDA??!!!"

(2) Estou a pensar organizar uma caturríssima fogueira de Natal, onde todos podem contribuir com um livrito do Paulo Coelho ou da Margarida Rebelo Pinto, esses bibelots que vos ofereceram nos anos e que vão permanecer castos e intocados até ao fim das suas folhas. Quanto mais não seja, servirão para aquecer as mãos e os corações enregelados na quadra natalícia.


quinta-feira, outubro 02, 2003

PENSO, LOGO EXISTO... Round II

Boa noite, staff da padaria Primavera e demais morcegos dos subúrbios

A história já deve vir do tempo da Maria Caxuxa (1). Os primeiros Homens não se deviam sentir muito à vontade com a ciclicidade kantiana do inexplicável fenómeno, sendo mais um a juntar aos ritmos próprios das luas, marés, estrelas e demais manifestações místicas da Mãe-Natureza. (2)

Não devia ser propriamente dos assuntos mais populares à mesa do jantar…:

"-Môr, passa-me aí a pernita de mamute. Olha, veio-me o período"…Não havia necessidade, nas sábias palavras do Diácono Remédios.

Apesar do inegável desconforto causado pelo tema e da aura secretista em torno deste piqueno tabu, o chefe de família não devia perder muitas horas de sono a pensar nisso, com certeza. Teria uma ideia vaga sobre o assunto, sabendo que teria que recorrer aos serviços da Madame Gigi lá do burgo, durante essa infame fatia do mês em que a sua esposa se revelava particularmente intratável...

Está visto que a coisa sempre esteve mais ou menos enclausurada numa espécie de saudável "baú" de pudor. Pois é, esteve. Até ao dia em que a publicidade resolveu meter o dedo em -mais um (3)- território até então inexplorado, passando esses anúncios a horas impróprias, sendo que depois lá vêm as criancinhas fazer perguntas incómodas...

"-Ó pai, o que é que aquela menina tem na mão?"
"-Bem, aquilo é...digamos que...a tua mãe bem que podia já ter voltado do cabeleireiro!!!"...

Mas sobre isso me debruçarei com maior pormenor na próxima "postada".
Beijinhos e abraços

(1) Ou será "Cachucha"? Confesso que nunca percebi a origem desta expressão

(2)
Este sentimento de profundo respeito e deslumbramento perante os insondáveis desígnios da Natureza foi sendo gradualmente substituído por qualquer coisa do tipo: "EH, QUER DIZER QUE VOU TER QUE ´TAR UMA SEMANA INTERINHA SEM AFOGAR O PALHAÇO??!!"

(3) Ver blogada sobre a Astrologia

segunda-feira, setembro 29, 2003

PENSO, LOGO EXISTO... Round I

Boas tardes, eventuais transeuntes do Páteo das Merendas da maledicência gratuita

Há meia dúzia de assuntos que o arquétipo do homem português não faz muita questão em aflorar. A saber, qualquer coisa que esteja relacionada com a pretensa vida sexual dos pais (eu sou daqueles que gosta de pensar que nasceu por geração espontânea), os "sete" que o Benfica mamou em Vigo e Alvalade (em particular para a massa adepta do Glorioso), o Ultimatum Inglês (e o Mapa Cor-de-Rosa), a questão de Olivença (que ainda há-de ser nossa, segundo dizem) e, finalmente, o famigerado "período", secundado por todos os sinistros subprodutos que com ele estejam relacionados, nomeadamente tampões, pensos higiénicos e outros que tais.

Na verdade, que designação poderia ser mais abjecta que "o período"...? Hein?! Quem é que teria tido a ideia peregrina de lhe chamar semelhante coisa? E porquê? O "período" parece uma daquelas expressões usadas para meter medo às criancinhas que fazem birra para comer a sopa. "Se não comes a sopa imediatamente, chamo o período!!!".(1)

(1) Consoante a área geográfica, o "período" é substituído pelo "cigano", "velho do saco", "polícia","papão", "Manuela Ferreira Leite" ou ainda pelo "homem do lixo", para as tias de Cascais e arredores)

Um beijinho para a Sophia

quinta-feira, setembro 25, 2003

Caros concidadãos eleitores e demais escória pré-eleitoral, vulgo cidadania a meio-gás...

Acabei agora mesmo de fazer o o exame (Direito Político) que vai ditar a minha passagem (ou não...) de ano, pelo que ainda sinto no corpo aquele torpor pós-exame, algures entre a euforia descontrolada e a depressão profunda (sendo ambas directamente proporcionais ao tempo dispendido com a preparação do dito...). Enfim, a Constituição tem segredos que a própria Constituição desconhece...
Mas isso são cantigas e a partir de hoje já vou poder voltar às minhas crónicas da tanga, porque isto de fazer uma espécie de "Diário de Anne Frank" de um gajo dos subúrbios deve ter o mesmo interesse para o leitor que a vida sexual de uma preguiça...Mais coisa, menos coisa.

Cumprimentos ao Capitão Roby, esse verdadeiro ídolo da juventude portuguesa (sim, não me venham falar desses maricões que acham que sabem cantar e vão à televisão fazer figuras tristes)
Ah, cumprimentos (póstumos) também a Salgueiro Maia, já que hoje sinto Abril correr-me nas veias com o ímpeto de um cavalo dopado. Não deixem morrer a utopia...

terça-feira, setembro 23, 2003

Caríssimos paroquianos,

Duas coisas.
Primeira, foi com grande regozijo que constatei da adesão ao Guestbook (dito assim, em estrangeiro, parece uma coisa mais sofisticada). Tenho pena de não fazer ideia de quem seja a "d isabel", mas valeu a tentativa.
A Patricia diz que eu sou muito lindo...É verdade, honra lhe seja feita. E agora vou fazer aqui um parágrafo, que é para enfatizar bem esta afirmação.

Segunda, tiro o chapéu à Alice Medrosa, que já ganhou um lugar cativo na mesa de chá que é o meu coração. Quanto ao resto do auditório, despachem-se antes que arrefeça...

Na paz do Senhor,
Irmão André
Boa noite ao pessoal do Estabelecimento Prisional de Lisboa e ao restante auditório

Tenho andado com pouco tempo para limpar as folhas secas do Parque (e escrever qualquer coisinha, já agora), até porque o show travesti rouba-me a maior parte. Enfim, quem corre por gosto...

Outra coisa: vou passar a fazer greve de fome -todos os dias das 02H00 às 10h00 AM- até que algum(a) filho (a) de Deus se digne fazer algum comentário às minhas interpelações. E só paro para comer uma bucha a meio da noite!! Quero ver quem é o coração de chumbo que não se vai sensibilizar perante o apelo deste Bambi perdido no meio da floresta da incompreensão alheia...Vá lá, Alices medrosas, saltem para este lado do espelho!!!

Beijinhos e abraços do Coelho do Relógio, que já tem um cházinho com bolachas à  vossa espera...

sábado, setembro 20, 2003

E pronto, portugueses e portuguesas, o Parque já tem um livro de visitas. Peguem na caneta e deixem a vossa opinião. Claro está, se me for favorável. Se não, metam-na no repositório que mais vos aprouver. Sugiro o contentor de lixo do Parque, porque este espaço quer-se asseadinho.
Cumprimentos

sexta-feira, setembro 19, 2003

Não posso deixar de sorrir perante o número de pára-quedistas que aterram no Parque através da pesquisa por "Isabel+Figueiras+Maxmen"...Otários :)
Caríssimos paroquianos,
Conforme me comprometi, aqui fica a transcrição de um diálogo extraordinário de um episódio do "Seinfeld", na onda da desmistificação do "gosto de ti como amigo", esse Adamastor do levar tampa e afins. Leiam e lambuzem-se com estas duas colheradas de mel literário.


>>"ELA GOSTA DE TI COMO AMIGO" by JERRY SEINFELD
>>
>>
>> «Ate hoje pensava que a pior frase que podia ouvir de uma rapariga
>>era:
>>"Temos que falar...".
>>Mas nao!
>>A pior frase de todas e: "Eu tambem gosto de ti...mas como amigo."
>>isto significa que para ela tu es o mais simpatico do mundo, aquele
>>que melhor a compreende, o mais dedicado... mas nunca vai sair
>>contigo.
>>Vai sair com um gajo nojento que apenas quer ir para a cama com
>>ela.
>>Ai sim,quando o outro lhe faca alguma das dele, ela chamar-te-a
>>para te pedir conselhos.
>>E como se fosses a uma entrevista de trabalho e te dissessem:
>>
>>"Voce e a pessoa ideal para o posto, tem o melhor curriculo, e o
>>que esta melhor preparado... mas nao vamos contrata-lo. Vamos
>>contratar um incompetente. So lhe pedimos uma coisa, quando esse
>>gajo fizer asneira, podemos chama-lo para nos tirar da embrulhada
>>em que ele nos meteu?"
>>
>>Eu pergunto:
>>o que e que fiz mal?
>>Fomos ao cinema, rimo-nos, passamos horas em cafes... e depois de
>>quantos cafes ficamos amigos de verdade?
>>Depois de cinco?
>>Seis?
>>Com um cafe menos e tinha ido para a cama com ela!!
>>Para as mulheres, um amigo rege-se pelas mesmas normas de um
>>Tampax:
>>podem ir para a piscina com ele;
>>podem montar a cavalo;
>>dancar..., mas, a unica coisa que nao podem fazer com ele e ter
>>relacoes sexuais.
>>Ainda por cima, bem vistas as coisas... se para uma mulher
>>considerar-te "seu amigo" consiste em arruinar a tua vida sexual, o
>>que fara ela com os inimigos?
>>A mim parece-me muito bem que sejamos amigos, o que nao percebo e
>>porque e que nao podemos "ir para a cama como amigos".
>>Eu penso que a amizade entre homens e mulheres nao existe, porque
>>se existisse saber-se-ia.
>>O que acontece e que quando ela te diz que gosta de ti como amigo,
>>para ela significa isso e ponto.
>>Mas para ti nao.
>>Para ti quer dizer que se numa noite estao na praia, ela ja com uns
>>copos, esta lua cheia, os planetas estao alinhados e um meteorito
>>ameaca a Terra... podias muito bem ir para a cama com ela!!
>>Por isso engoles...
>>Por isso nunca perdes a esperança.
>>Ela sai com o Joe?
>>Isso vai acabar.
>>E quando isso acontecer, tu atacas com a tecnica de consolador:
>>"Nao chores, o Joe era um chulo. Tu mereces muito melhor, alguem
>>que te compreenda, alguem que esteja no sitio certo quando tu
>>precisas, que seja baixito, que seja moreno, que nao seja muito
>>bonito, que se chame John...COMO EU!!"
>>Pelo menos, sendo amigo podes meter nojo para eliminar
>>concorrencia.
>>É a tecnica da "lagarta nojenta".
>>Quando ela te diz:
>>- Que simpatico e o Paul, nao e?
>>- O Paul? E muito simpatico... so e pena ser um pouco estrabico.
>>- Ele nao e estrabico, o que tem e um olhar muito ternurento.
>>- Sim, tens razao. No outro dia reparei nisso quando olhava para a
>>Marta.
>>- Nao estava a olhar para a Marta, estava a olhar para mim!
>>- Ves como e estrabico?
>>O cumulo dos cumulos e o facto dela considerar ter uma relacao
>>"super especial" contigo quando pode dormir na mesma cama sem que
>>se passe nada.
>>COMO E QUE É??!!
>>Entao o "super especial" nao seria que se passasse algo?!
>>Um dia depois de uma festa, tu ficas a ajuda-la a limpar, como
>>fazes SEMPRE, e quando acabam ela diz:
>>- UH! Que tarde. Porque e que nao ficas ca a dormir?
>>- E onde e que durmo?
>>- Na minha cama.
>>Ai, ate te tremem as pernas.
>>"Esta e a minha noite, alinharam-se os planetas!".
>>Passados uns minutos, das-te conta que nao sao precisamente os
>>planetas que se alinharam, porque ela, como sao amigos, com toda a
>>confianca fica em roupa interior e tu, pelo que ves, pensas:
>>"Vou ter que ficar de boxers. Com todo o alinhamento de planetas
>>que tenho em cima..."
>>E, assim que te metes na cama, dobras os joelhos para dissimular.
>>Ela mete-se na cama, da-te uma palmada no rabo e diz-te "Ate
>>amanha".
>>E poe-se a dormir!
>>"COMO E QUE É??!!
>>Como e que se pode por no ronco tao cedo?
>>E esta fulana nao reza nem nada?"
>>Estas na cama com a rapariga dos teus sonhos.
>>No inicio nem te atreves a mexer, para nao tocar em nada.
>>Sabes que se nesse momento fizessem um concurso, ninguem te podia
>>ganhar:
>>És o gajo mais quente do mundo.
>>E como é longa a noite!
>>Vem-te a cabeca um monte de perguntas:
>>"Tocar uma mama com o ombro sera de mau amigo? E se e a mama que
>>toca em mim?"
>>Mas depois de muitas horas, ja so fazes uma pergunta:
>>"SEREI REALMENTE UM MANSO?!"
>>Nao podes acreditar que estas na mesma cama e nao se vai passar
>>nada.
>>Confias que, a qualquer altura, ela vai dar a volta e dizer "Anda
>>lorpa, que ja sofreste bastante. Possui-me!"
>>Mas nao.
>>Para as mulheres parece que nunca sofremos o suficiente.
>>E como sofres...
>>Porque tens todo o sangue do corpo acumulado no mesmo sitio.
>>Ja houve mesmo casos de homens que rebentaram.
>>Mas ainda nao acabou a tua humilhacao.
>>As 7 da manha tocam a campainha:
>>- AH! E o Joe!
>>- O Joe? Mas ele nao te tinha deixado?
>>- Depois conto-te tudo. Estou com pressa. Esqueci-me de te dizer
>>que o Joe ia trazer o cão. Como vamos a praia eu disse-lhe que
>>ficando contigo o cão nao podia estar em melhores maos. Porque tu
>>es um amigo! UH?!
>>Estas com uma cara. Dormiste bem?
>>E aí ficas tu com o cão, que esse sim e o melhor amigo do homem. »

THE END




quinta-feira, setembro 18, 2003

Boa noite, amigos, palhaços e companheiros deste circo que é a vida

Hoje vim só passear o cão ao Park, até porque o animal precisa de esticar as pernas e dar a sua mijinha delimitadora de território, de vez em quando. Coisas de cão.

Venho deixar 3 cl de veneno puro, resultado de uma interessante troca de ideias com o amigo Nelson Mendes esta tarde: segundo o mesmo, o cúmulo da tristeza é um gajo ter que fingir os próprios orgamos. As mulheres que se ralem com essas coisas, obviamente.

Agora vejam lá!! Que vocês não comentem os meus textozecos-de-trazer-por-casa, isso ainda compreendo. Agora, esta...

terça-feira, setembro 16, 2003

HÁ COISAS QUE NÃO SE DIZEM

Saudações à  diàspora que constitui o meu fiel auditório, espalhada um pouco por todas as alas psiquiá¡tricas deste jardim à beira-mar plantado...

Pois é, pois é, há coisas que não se dizem e, principalmente, não se deviam ouvir. Nunca. Mas na vida real, a coisa não funciona bem assim. Há uma série de clássicos do horror, tão familiares como o Manuel Luis Goucha nos programas-de-encher-chouriço das manhãs da televisão.

O "Gosto de ti como amigo"´constitui um autêntico paradigma destas vilanias verbais. Quem é que nunca levou com esta "bomba-G" nos queixos? Ai do pobre suporte genital, que embate no solo com um fragor considerável, ao ouvir este exemplar de barbárie verbal... E que dizer dos infelizes eufemismos usados nestas ocasiões, que supostamente deveriam consolar a alma enegrecida do "pontapeado"...?! É como tentar apagar fogo com gasolina, que a bem dizer, se sabe ter uma composição química pouco dada a essas coisas. A ver se nÃo me esqueço de "postar" um texto lindí­ssimo sobre estas coisas, um diálogo transcrito de um episódio do "Seinfeld". Pode ser mais batido que a história do assentador de tijolos de Cascais, mas é daquelas trovas que são transmitidas de pai para filho, as jóias da família na verdadeira acepção da palavra.

O ego masculino é, por noema, uma construção pouco mais sólida que as pontes pedonais do IC19 e está pronto a desmoronar-se ao sinal de uma qualquer brisa mais avantajada. Bem, isso da brisa, ainda vá que não vá. Agora, perante certos tornados como "Já acabaste...?" ou "Que giro, tão pequenino...", não há Forte do Guincho que resista. Estas bocas, não as desejo nem ao José Mourinho.

Mas as meninas também levam umas lambadas verbais valentes, de vez em quando. O que só lhes faz bem, diga-se. Ajuda a formar carácter e torna as bochechas mais rosadinhas. Basta pensar no sex-appeal próprio das mulheres nortenhas... Pérolas telegráficas como "És uma miúda espectacular, bué inteligente e com um excelente sentido de humor. Pena seres gorda. Adeus." ou "Eu até gosto de ti, és uma fixe, mas a que a minha ex telefonou-me e tu não podes competir com isso. Basicamente.". Ou então, simplesmente, "És gorda" (curto e grosso, sem polimentos e extras). "És uma baleia" (analogia zoológica), "És desmesuradamente obesa, nem penses", "Tenho três palavrinhas para ti: Jose-Maria-Tallon...". Finalmente, o golpe de misericórdia: "Tu queres o quê!!?? Meu rico cXXXXXXXXX!!!!"

E há ainda outras perfídias que a malta pensa, mas prefere guardar para os seus botões, porque pareceria muito mal e não convém denegrir a nossa imagem no mercado. Estas coisas vêm sempre a lume e não há coisa mais volátil e imprevisível que a Bolsa do Gajedo. Essas, obviamente, vou-me coibir de as enunciar. Perguntem ao vosso respectivo, se quiserem.

Mas há expressões ambidextras que também vão preenchendo regularmente o infame livro da desculpites esfarrapadas, mais andrajosa ainda que o guarda-roupa de um festival hippie. A saber, "A culpa não é tua, é minha", "Não te mereço", "Estou confuso (a)", entre tantas outras. Há gente que lida com estas coisas com o tacto próprio de um elefante às compras numa loja de porcelanas, mas a vida é mesmo assim. Um dia é da caça e o outro, do caçador.

Despeço-me com o grotesco "eu gosto de ti, mas, sabes, vem aí o Verão..." Esta aconteceu mesmo. Nõ gozem, amanhã pode ser a vossa vez...


Um beijinho para a amiga Susana Quintela

segunda-feira, setembro 15, 2003

"Eh, toiro" - parte II (e chega bem)

Olá outra vez

Aqui vai então a transcrição da coluna da D. Isabel...

«É tempo de férias, tempo de contar histórias divertidas, tempo de recordar e ...tempo para pensar, aproveitando o tempo de ócio –oposto ao tempo de negócio- característico das férias. Comecemos então pela história, que além de engraçada, é verdadeira.
(...)
Esta história, verídica, foi recordada por um tio que no-la contou ao serão após um jantar familiar. Ele e a minha mãe são as memórias vivas da família, as pessoas que costumamos "atormentar" para que nos contem os costumes da época, da nossa família. É esta uma das actividades típicas de férias que se pode usufruir na praia, entre dois mergulhos, ao café, ao jantar...
Mas às praias estão a chegar outros toiros que marram de lado e sem prevenir. Contrariamente ao toiro "náufrago" não chegam cansados à areia. Vêm dispostos a atacar e causar estragos. Chegaram os toiros do consumismo, da vida fácil, do convívio indescriminado, da moda despudorada, da falta de ordem na alimentação, nos horários para refeição e descanso. E é de ver as colhidas: filhos que se iniciam numa vida de vícios –alcoól, drogas, sexo, jogo- casais que se separam, pais idosos abandonados...
E é de ver os "colhidos" a procurarem os hospitais da vida, sem os encontrar e sem perceberem o que lhes aconteceu ou como lhes aconteceu esta ou aquela desdita. Desabafam as suas tristezas e não há quem os queira ouvir e ainda menos ajudar. Se ouvem algum bom conselho, no sentido de mudarem de vida, de passarem a viver num ritmo ponderado pela razão e disciplinado pela vontade, fogem como covardes e qualificam-no de retrógrado.
Se alguma mulher se destaca em algum pequeno pormenor de falta de pudor, é fácil que venha a ser classificada, pelo menos trato, de pouco honesta, pois começa por ser olhada e depois interpelada, embora use aliança no dedo anelar. Se um homem tem por hábito beber um pouco acima da conta, pode acontecer que comece a ter comportamentos de que virá a envergonhar-se mais tarde ou, pior ainda, que venha a perder essa vergonha (o toiro pode colher o forcado e deixá-lo sem sentidos), sinal de que já não consegue distinguir o bem do mal.
Saber estar nas praias sem ser colhido, é toda uma arte de bem tourear. Uma "verónica" para a direita para evitar olhar o reduzido "bikini" que se apresenta à esquerda. Um lançar o capote para a frente, para poder tapar a túnica transparente de quem passa ao lado. Um "par de bandarilhas" bem colocado –reprimenda, castigo- quando se torna necessário refrear a força do toiro (um pai retirou por um ano, o automóvel a um filho, que não respeitava as horas de recolher a casa). Uma fuga atempada para a "trincheira", desviando caminho, para evitar o enfrentamento com um grupo conhecido pelo seu comportamento agressivo.
Ao terminar o Verão, com a família toda reunida, descansada e bem disposta é altura dos aplausos, saída em ombros, cauda e orelha na mão, ramos de flores aos pés e soando bem alto aos ouvidos um grande OLÉ!»

in O Almonda, 5 de Setembro de 2003
Texto da autoria de Isabel Costa

Enfim, caro leitor...não consigo tirar este sorrizinho de felicidade da cara...Como é que o posso descrever...? Já sei: faz lembrar o mercador fenício Epidemias (1), enquanto vê a dupla-maravilha desancar as legiões romanas em alto mar...E não me apetece dizer mais nada. Se vos apetecer, escrevam.

Um grande abraço ao recém-chegado Rui Lopes, perdido por alguns anos em terras de Sua Majestade (http://picuinhas.blogspot.com)

(1) Vide "A odisseia de Astérix" (Goscinny/Uderzo)
"Eh, toiro!" - parte I

Boas noites, gentes de Barrancos

Não, não vou bater no ceguinho, (i.e., na história dos toiros de morte em Barrancos) porque esse assunto é chão que já deu as uvas que tinha para dar. Agora que até já podem matar a bicharada e não se prende ninguém, quem é que quer saber disso para alguma coisa? Venho aqui hoje falar de outras touradas, passados na divertida arena da imprensa regional.

Nos últimos tempos tenho perscrutado com algum interesse os simpáticos pasquins da abençoada terra que me viu nascer, como "O Almonda" (Torres Novas), "Mirante" (região do Ribatejo) e mais uma ou outra patusca publicação. Vendo bem, este assunto pode gera munição mais que suficiente para uma saraivada de artilharia aqui no Parque. Logo se vê. Estes periódicos regionalistas costumam presentear-nos com as verdadeiras pérolas que são os artigos de opinião dos redactores residentes...Bem...Ok, é melhor não me esticar muito, porque iria cuspir num prato onde já comi, num passado mais ou menos remoto. Sim, pequei. E vamos ficar por aqui.

Verdadeiros "Confúcio-da-frase-feita-e-do-lugar-comum", há ainda uma outra característica universal neste tipo de artigos: o moralismozinho lamuriante, para o qual já não há a mínima pachorra. É impressionante, mas em todo "O Almonda" não há um único artista que salve a honra do pobre convento. Não me vou esticar muito com exemplos, mas há um cavalheiro que se refere repetidamente ao «cowboy Bush» e toda aquela conversa que já não lembrava nem ao Menino Jesus, do género «O país dos sonhos foi atacado pelas forças do Mal. Onde estão os super-heróis que deviam proteger as Torres Gémeas?» Reticências. Pontapés delas.

Trouxe aqui ao Parque um pedacinho de céu da autoria de uma distinta colunista chamada Isabel Vasco Costa e que merece ser difundida no éter da Tasquinha do Escárnio e Maldizer. O artigo é um bocadinho extenso, pelo que vou saltar para a parte que "interessa". A introdução fala de uma tourada na Ericeira, de um toiro que cai à água e de um banheiro que vai no seu encalço, julgando socorrer um vulgar banhista com apenas duas pernas e os cornos (desejavelmente) mais pequenos...Até aqui, menos mal.

O problema surge quando a D. Isabel (quando se fala do "tempo da outra senhora" é desta senhora que se está a falar) suspira num tom saudosista pelos idos tempos dourados do Presidente do Conselho e do Portugal dos bons costumes. Tive que fazer um ou outro sprint até ao Vomitódromo enquanto transcrevia algumas frases. Cheguei a pôr em causa a minha integridade física. O que eu não faço pelos meu fiel auditório...Tem o microfone a fadista Isabel Vasco Costa...Não percam a próxima "postada".

sábado, setembro 13, 2003

O BIBELOT, ESSE FLAGELO DECORATIVO - parte II (e última)

Boas noites aos discípulos do Templo da Barraquinha
Peço desculpa por me ter ausentado esta semana, mas estive na aldeia e a Revolução Electrónica ainda não chegou ao Ribatejo profundo. Mas aproveitei para me deliciar com a imprensa regional daquelas bandas e vou aproveitar para a desancar forte e feio na nossa próxima "Conversa em família".

Entre os mais sofisticados receptáculos de pó de uma típica sala de estar, corremos o risco concreto de encontrar aqueles tabuleiros de xadrez XPTO, com peças talhadas à mão e incrustrações de pedras preciosas. Claro está, livre-se alguém de pôr o dedo em cima desta obra de arte decorativa...:

"-Isto custou-me os olhos da cara!!! Se vos apanho a jogar, ficam seis anos de castigo sem ver o Batatoon!!" –vocifera a matriarca do clã. Dentro dos bibelots mais sofisticados, a Enciclopaedia Britannica, e as Obras Completas do Eça e do Camilo são "monstros sagrados" da literatura que povoam frequentemente a salinha de estar. São aliás tão sagrados que ninguém se atreve a cometer a blasfémia de lhes passar a mão no pêlo... A título de curiosidade, a minha afilhada mantém a sua biblioteca de sala religiosamente plastificada, aguardando com certeza um qualquer evento messiânico, dia esse em que os vai retirar do casulo e eventualmente, ler algum...

Estes objectos intocáveis fazem-me lembrar um outro tabu que sempre me fascinou: a porta principal da casa de aldeia. A habitação da aldeia tem sempre uma porta virada para a estrada, com um vaso florido e meia dúzia de sardinheiras no seu regaço. Essa porta nunca –ou quase nunca- é aberta. Há sempre uma portinhola camuflada com alguma vergonha nas traseiras –a "porta do cavalo"- que tem sempre uma daquelas coloridas redes anti-mosca. A porta principal –que ostenta orgulhosamente o número da habitação- é usada apenas em ocasiões mais cerimoniais. Esse místico portal dimensional só se abre aquando da visita do pároco local, do senhor Presidente da Junta e pouco mais. Fecha-se a porta da cripta e passado um minuto já o silêncio pesado volta a engolir o frontispício da habitação. E fecha o parêntesis.

O Nabuconodosor (1) desta "Babilónia do Barro Acetinado" é, sem dúvida, a "Recordação de (...)". Quem é que não tem em casa um pratito ou medalhita comemorativa de uma qualquer excursão a Badajoz, ou mesmo um exemplar vagamente fálico de louça comemorativa de um passeio às Caldas...? Uma sala lusitana que se preze tem que ter pelo menos um recuerdo alusivo ao santuário de Fátima ou do Bom Jesus de Braga. Vemos aqui aplicado um raciocínio geométrico do tipo "quem não é do Benfica não é bom chefe de família", aplicado à especificidade da posse de louça regionalista.

Mas de onde vem e para onde vai esse autêntico combustível alimentador das quermesses de qualquer festinha da terra, o bibelot?
A origem primeira (e última...) desta maleita decorativa é, incontornavelmente, o Império do Meio (2). O "Made in China" é mais vulgar entre a bonecada de barro que a exploração de mão-de-obra infantil nas novelas da TVI... Toda a gente sabe –e só não vê quem não quer- que se está perante uma espécie de "mito do eterno retorno" (desculpa lá a blasfémia, ó amigo Mircea).
Passo a explicar: a malta compra a bela rifa na barraquinha da especialidade, certo? Sai-nos um daqueles dálmatas de louça relezita (giríssimos...) com que algumas almas penadas insistem montar guarda na sala de estar. "-Que bela trampa..." – cogita angustiadamente o infeliz contemplado. "-O que é que eu faço com este mono...?" –interroga-se o mesmo indivíduo. Posta de parte a possibilidade exposta pela senhora esposa do Neandertal (i.e., metê-lo no c...) só resta levar aquele emplastro barrento sarapintado para casa. Eis senão quando o ciclo se fecha e o mito das rifas ganha pergaminhos de eterno retorno: "-´Pera lá, para o ano já sei o que é que vou dar às senhoras da Comissão de Festas, quando passarem cá por casa a pedir qualquer coisinha. Ah, pois...!!"

Fico à espera da vossa boquinha reaccionária, aqui mesmo, no vosso Speaker´s Corner do Blogue do Fim do Mundo

(1) Vão ver à enciclopédia que têm na sala. Pelo menos, sempre lhe sacodem o pó...
(2) A pobre enciclopédia já deve estar aborrecida com o corropio...

Um beijinho para a dedicada amiga Margarida Rodrigues, fiel leitora e incansável promotora desta cubata literária, que nem tecto de colmo tem.

segunda-feira, setembro 08, 2003

O BIBELOT, ESSE FLAGELO DECORATIVO - parte I

Boas noites para os meus leitores em Calcutá e um enorme bem-haja aos demais convivas da Barraquinha das Farturas


Hoje vou abrir as hostilidades com uma viagem no tempo. O cenário é o seguinte: acabou de regressar à sua "Caverna, doce caverna" um Homo Erectus, Habilis ou outra coisa qualquer. Enfim, um qualquer primo afastado do macaco Hadrianno, exceptuando o Tony Ramos. Absolutamente extenuado, o nosso hominídeo apresenta um ar mais fatigado que o padre Vitor Melícias depois de cortar a meta das Quinhentas Novenas de Indianápolis. (1) Num último esforço, arremessa para o chão da caverna a gigantesca presa que acabara de caçar. Um diálogo surreal segue dentro de momentos:

"-Seu, seu...selvagem (começa a chorar)!!! Achas que é aí que vais deixar isso?!! No chão da sala!!?? Bruto!! A minha mãe bem me disse para casar com o vizinho da tribo do lado. Pode não ter essa história do polegar oponível, mas pelo menos é arrumadinho e tem a tanga de pele de leopardo sempre num brinquinho. Já tu...Qualquer dia, vais ver nascer-te na fronte um par de cornos maior que o desse auroque..."

O pobre e confuso caçador tenta (em vão, naturalmente) discutir racionalmente com a mulher. A tarefa já de si bastante complicada torna-se substancialmente mais espinhosa quando estamos perante um indivíduo do sexo feminino dotado de uma cubicagem crâneana diminuta...Pois é, pois é. Finda a refeição, e chupadinho até ao tutano o pobre herbívoro, a discussão recomeça:

"-Mas...ó amorzinho...onde é que eu meto isto?!"
"OLHA, METE ESSE ESQUELETO NO C... Espera lá...com um toquezinho aqui e um arranjinho ali...será...? Quem sabe...Humm...Já sei, vai ficar ali ao pé do sofá, para dar um toque mais acolhedor à sala. Dou-lhe uma traulitada bem dada e fica logo com outro aspecto!! Sim!!! Isto do toque feminino é outra coisa, sem dúvida."
Meus senhores e minhas senhoras, acabara de ser criada a primeira escultura rupestre. Uma singela marretada para esta senhora, um gigantesco salto para a Arte. Calma aí, não vamos já a correr regozijar-nos com esta conquista estética, façam favor de aguentar aí os cavalinhos. Na verdade, das mãos desta senhora saíra também o primeiro exemplar de um temido flagelo que iria inexoravelmente fazer-nos companhia, geração após geração, nidificando nos móveis de uma inocente e incauta sala de estar...Minhas senhoras e meus senhores: o bibelot. A tragédia, o drama e o horror seguem dentro de momentos...

O Bibelot (latu sensu) é todo aquele objecto que não tem qualquer utilidade que não seja a mera função decorativa. Até aqui, ainda vá que não vá. O problema é que o povo português tem um magnetismo irresistível por bonequinhas feiosas, caixinhas pirosas e outros tantos emplastros com os quais entope as faixas de rodagem dos móveis da sua habitação. As loiras voluptuosas não são para aqui chamadas, pois a malta é bem capaz de idealizar uma ou outra utilidade bem mais agradável que a mera decoração (no banco do pendura) de carros desportivos...

A "Bibelotite" é um tipo de doença decorativa (e degenerativa) que se dissemina mais rapidamente que um segredo bem guardado num escritório cheio de mulheres... O agente de propagação mais conhecido é a Loja dos Trezentos: trata-se de uma espécie de caixa de Petri da cultura do vírus do bibelot, um artefacto tão comum nas nossas casas como o "bigodinho-à-Clark-Gable" nos homens iraquianos. Mas há outras entidades incubadoras deste pesadelo dos adolescentes que têm que limpar o pó da casa: a sapateira e a camilha. Regra geral, estes altares do culto da Deusa da Inutilidade estão mais carregados de fotografias que um «ferry» filipino em hora de ponta. Mas se sobra um ínfimo espaço que não seja eventualmente abarbatado por todas aquelas caras sorridentes, o temido vírus tende a agarrar-se que nem lapa a esse cubículo minúsculo. Com um olhar desafiador, sussurra um "Em breve, seremos dezenas, centenas, milhares!!!" "AH!! AH!! AH!!" (riso de bibelot lunático, filiado no Partido Popular (2)


(1) Prova a contar para os World Prayer Championships, ou, para quem não sabe ler estrangeiro, os Campeonatos Mundiais da Oração
(2) Esta piada foi muito boa


Um beijinho para a Inês "M.T"

sexta-feira, setembro 05, 2003

"NÃO NEGUE À PARTIDA UMA CIÊNCIA QUE DESCONHECE..."- parte II
(e última)


Muito boas noites às peixeiras do Mercado do Bolhão e ao restante auditório

Um astrólogo que se preze promete eficácia e resultados. Nada melhor que deslumbrar o cliente com um esplendoroso "mapa astral", cheio de arabescos místicos indecifráveis, sustentando afirmações do género: "A maadame está a ver Marte aqui em cima de Vénus? Isto quer dizer que vai conhecer o homem da sua vida até às 17He44 de 14 de Setembro deste ano. Se tal não vier a acontecer, é porque Úrano teve um affairzito planetário fugaz com essa galdéria e a gente sabe que isso não pode dar boa coisa. Agora, só não percebo este pontinho preto na zona dos Peixes. Mas...está a mover-se..!!!! É um espírito errante...ah, era uma mosca..."

Embrulhados num pacote desejavelmente mais apetecível que o da concorrência e a milhas daquela conversa de amador que são as previsões generalistas, estes profissionais oferecem soluções customizadas, à medida das necessidades do cliente. A vulgar bruxa urbana é agora uma renascida "vidente" ou "astróloga" ou "parapsicóloga" abraçando com entusiasmo os desafios da "aldeia global". Nada chega aos calcanharesao "Instituto CosmoPsicoBiológico do Professor..." não me lembro do nome do cavalheiro, mas sei que só lhe faltava ser engenheiro agrónomo. O resto estava lá.
Torna-se muito interessante analisar com detalhe a linguagem empresarial empregue no ramo, sendo óbvio que o marketing omnipotente lançou a âncora nos aparentemente insuspeitos mares do espírito e afins. Quem quiser comprovar a agressividade comercial do palavreado usado, basta que dedique dois minutos a ver os classificados de um pasquim de referência, como o Correio da Manhã. Aconselho. Um desses dias que levem com os pés, nada melhor que ver a fatiota do digníssimo Professor Karamba e a sua pose de "Buda-da-Praça-de-Espanha". Em negro.

Mas o "monstro de ébano" do ramo, o Professor Bambo, tem até um programa de rádio. Ah, pois!! O homem é mais popular entre o seu auditório que o Ricky Martin na pista de dança de uma discoteca gay... A fauna lusitana é muito diversificada. Nós por cá temos o abichanado Paulo Cardoso (aquele que é casado com a cantora lírica e têm ambos um anúncio publicitário residente no pasquim supracitado) a sempre colunável Maya (que dá uma perninha no "SIC 10 Horas"), a enjoadita Cristina Candeias (de serviço na "Praça da Alegria" do canal 1) e milhentos outros cromos que já fizeram história. Entre eles, o "firme e hirto" do Professor Herrero, já mais clássico que aquela cena do piano no "Casablanca".
Bem feitas as contas, dava para encher uma edição da Caras só com estes cromos da astrologia, apesar de que alguns -infelizmente- terem menos aptidão para a fotografia que o Marques Mendes para jogar a poste numa equipa de basket...

Certo é que muita cara conhecida não dispensa os serviços destes "Marcelo-Rebelo-de-Sousa-da-leitura-do-búzio-e-derivados", consultando-os aquando da tomada de decisões fulcrais, como a conjuntura cosmológica favorável à tosquia do seu caniche, por exemplo.
E não há classe ou sector da sociedade que esteja alheado desta realidade: chegam de vez em quando a lume umas histórias muito mal contadas sobre bruxos que fazem trabalhinhos para os clubes, galinhas pretas nos balneários, etc. Não chegavam já os frangos do Vitor Baía...(1)

Na sombra dos sorridentes e colunáveis astrólogos das capas de revista, uma outra classe luta para sobreviver à concorrência desleal destes "hipermercados do oculto": a bruxa do "comércio local" continua inelutavelmente a recorrer aos sapos dissecados (2) na preparação das suas poções de amarração do bem-amado (3), anti-calosidades dos pés ou mau hálito congénito.

Como dizia o Herman: "O signo Imperial vai muito bem com o ascendente Tremoços". O resto, não sei. Não me interessa quais são astrólogos, videntes, bruxos, magos ou marceneiros. De qualquer forma, eu também não sou ninguém para avançar com rebuscadas teorias explicativas destes fenómenos gerados pela solidão sufocante das sociedades urbanas, da necessidade de um ombro amigo, da tentativa de dar algum sentido à vida vazia das sociedades de consumo, blá, blá, blá.
São coisas tão antigas como Nós mesmos, inseguranças e medos que nos acompanham desde o dia em que descemos das árvores, com as partes baixas a chocalhar sob o Sol inclemente. Os especialistas que se dediquem a essas coisas, pois eu ainda nem sequer acabei o curso e já ia sendo mais que tempo, por acaso. Vai na volta, pregaram-me algum mau-olhado académico, ou coisa que o valha. Acho que vou mas é fazer uma chamadinha para o consultório do Professor Faty. Mal não faz...


(1) Para as senhoras que eventualmente leiam isto, o Vitor Baía é um jogador de futebol. Um daqueles que fica mais atrás, perto daquela caixinha com rede à volta. Ah, e pode agarrar a bola à mão, sem que o senhor do apito ralhe com ele por causa disso.

(2) Sob veemente protesto dos batráquios envolvidos

(3) Um best-seller do bruxedo






quarta-feira, setembro 03, 2003

"NÃO NEGUE À PARTIDA UMA CIÊNCIA QUE DESCONHECE"- parte I

Boas noites ao meu fiel auditório e um grande abraço ao pessoal da roda (saudação fraternal entre o selecto clã dos camionistas, para quem não saiba)

Não há nada tão assustador para quem se propõe escrever qualquer coisa, como o deserto branco de uma página A4 por desvirginar. E é terrível quando não se passa mesmo nada pela cabeça, como se do argumento de uma novela da TVI se tratasse. A TVI é, por sinal, o cerne da questão. Sentei-me em frente ao ecrã e, mesmo na linha do horizonte está um placard (1) a rezar o seguinte: "BigBrother-Eles vão pôr tudo a nu". "Porreiro..." -confidenciei aos meus botões- "... já tenho aqui material suficiente para fabricar uma dessas dirt-bombs literárias".

Comecei penosamente a escrever uma, duas, três linhas, com o entusiasmo próprio de um condenado a atravessar o corredor da morte. Na verdade, faltou a paixão. Não sei se era do adiantado da hora, se era disso da Lua nova, ou se estava com dor de cabeça: a verdade é que o assunto não me excitou minimamente e perdi logo ali o apetite. E quando isso acontece –como em outras situações semelhantes- mais vale embainhar o instrumento (de caligrafia, neste caso) e esperar que a luz do dia seguinte faça luz sobre o espírito atordoado e desértico de criatividade. Bem dito, bem feito: o Sol nascente dissipou as minhas angústias.

Sucedeu que fui cumprir o ritual diário da consulta do correio e eis senão quando me deparo com um cartão de visita, rezando o seguinte:

«Grande Mestre Jan Faty

Grande cientista espiritualista, com supermagia negra e branca mais forte, trata e ajuda a resolver qualquer que seja o seu caso de difícil solução, com mais rapidez. Ex: amor, sorte, negócio, emprego, união, prender e desviar, afastar e aproximar pessoas amadas, doenças espirituais, justiças, estudos, maus-olhados, invejas, etc, etc. Lê a sorte, dá previsão de vida e futuro pelo bom espírito e forte talismã.»

Ok, já tinha um delicioso alvo a abater: a astrologia. Acabo de pronunciar a dita palavra e vem-me imediatamente à cabeça a incontornável Alcina Lameiras e a sua mini-saia de meretriz de dois contos de réis. Quem é que não se lembra daquele anúncio hilariante? "Não negue à partida uma ciência que desconhece!", vociferava ameaçadoramente a actriz Alcina, enquanto vendia as virtudes dos seus seviços de cartomância à la carte, servidos via linha telefónica. Esta pérola deixou a sua marca indelével no imaginário publicitário, na linha de clássicos como "Um branco de carapinha não é natural: Restaurador Olex (...)" ou "Bic Laranja, Bic Cristal, duas escritas à vossa escolha" (2). Tadinha da senhora Alcina, a puxar com desconforto os dez centímetros de pano que estoicamente tentavam conferir algum pudor aquele anúncio a transpirar uma discutível sensualidade. Para quem não se lembra do dito apresento as minhas sinceras condolências.
O nosso amigo Grande Mestre Jan Faty (ou J.F., como é conhecido no Mussulo) lava mais branco que o OMO, satisfaz as encomendas mais rapidamente que a UPS e, no meio disto tudo, só não se compromete a curar doenças venéreas e bicos-de-papagaio. Ah, tem também o bom senso de não prometer títulos para o Benfica. Isso sim, seria o cúmulo da ingenuidade...
Gosto particularmente de pormenores deliciosos como "supermagia". Que mais poderá daqui nascer, senhores? Hipermagia? Teramagia? Magia-98- octanas...? Este cavalheiro trata por tu os doze maiores especialistas de supermagia multicolor (3) e sabe mais das lides do oculto que o Nuno Rogeiro das guerras dos Balcãs.

(1) Ainda não me recompus do triste dia em que destronaram impunemente a minha querida Isabel Figueiras, capa da Maxmen com o seu enorme e exuberante par de olhos. Canalhas!!! Vou já mandar lançar uma “super-macumba-com-cogumelos-e-extra-queijo” sobre o sacana responsável...

(2) Para as pitas que lêem isto, isso das Bic eram umas esferográficas muito pobrezinhas, que na altura eram vistas como um expoente tecnológico extraordinário

(3) Mais uma piadola enfadonha sobre o engenheiro Guterres

Não perca o próximo –e último capítulo- desta saga "AstroWars: o Regresso de Faty", num ecrã perto de si.
Deixo ainda um ciber-beijinho à amiga Ana "Alcina" Isabel (quem tiver o e-mail dela, faça favor de me mandar) venerável cartomante e saudosa adversária de infindáveis rounds verbais sobre estas coisas da "Astro-tanga" e derivados.

sexta-feira, agosto 29, 2003

ASSIM VÃO AS GLÓRIAS DO TUNING – Terceira, e última, parte

Boa noite aos ouvintes da Rádio Renascença e ao meu fiel auditório

Quem é que nunca ouviu falar da monumental concentração no Centro de Exposições (CNEMA) de Santarém? (1) As peregrinações à Meca do ramo (assim como outros ajuntamentos populares, para as bandas da margem sul) funcionam como factor de congregação dos tuners, proporcionando um fortalecimento dos laços comunitários e permitindo a troca de artefactos e experiências. O lencinho/bandeira da "América" que costuma revestir o encosto de cabeça encontra aqui uma verdadeira legião de zelotas, sendo que alguns "fiéis" exibem orgulhosamente um CD no pára-brisas (ou um gigantesco e racing autocolante). No entanto, entre as esferas mais elitistas essa predilecção pelo CD é já vista de soslaio, como se de coisa de bimbo se tratasse. Em terra de cegos...

Os rituais de acasalamento são particularmente complexos. Com vista a impressionar o sexo oposto, os varões pavoneiam orgulhosamente o boné-colorido-com-óculo-escuro-à-pendura, tipo caranguejo-eremita. O recurso a flashes de luz azul –escolha muito popular para iluminação do habitáculo- resulta num efeito atordoante sobre a dama, sendo que as baforadas de monóxido de carbono dão cabo do resto das defesas. Deslumbram igualmente com o ronco do seu poderoso escape de rendimento, ou com a pressão sonora debitada pelo seu sound system (2). As corridas de quadrigas à bimbo e os "picanços" no semáforo são meios privilegiados para destrinçar os machos dominantes. Os outros ficam com o joio. E já gozam.

Outro elemento potenciador da coesão do grupo reside nas manifestações de carácter musical. Os membros do grupo juntam as suas "montadas" em manada, partilhando com o meio envolvente as suas preferências musicais (3) Podem surgir nestas ocasiões reacções hostis ao fenómeno tuning, nomeadamente quando a assembleia de reúne numa área residencial depois das onze da noite. Este desagrado é geralmente consubstanciado em palavras de ordem do género "Calem-se com essa merda!!!" ou "Eu amanhã trabalho, cambada de gandulos!!!!"

Consoante a tribo a que pertencem, as preferências musicais dos entusiastas do tuning podem ser segmentadas geograficamente: o "kizomba" e o "kuduro" são mais populares nos subúrbios, enquanto que o bom velho "pimba" tem mais discípulos nos meios rurais. As pistas de carrinhos-de-choque são meios privilegiados de difusão dessa musiquinha de meia pataca. Bem, chamar música a esse "áudio-refugo" de meia tigela poderia ofender algumas virgens mais puristas e fazer o maestro António Vitorino de Almeida fazer uma roleta inteira na tumba. Ah...o distinto senhor ainda não morreu, pois é...Realmente, o velhote vende saúde e vitalidade. Tenho impressão que na altura em que fazia aqueles programas com a Barbie Guimarães, o nosso amigo maestro ainda a terá convidado a ir lá a casa ver a colecção de partituras...

Não obstante as diferenças no gosto, é possível encontrar um denominador comum: seja o que for, tem de se ouvir a dois quarteirões (4), sendo essa a fasquia mínima para se conseguir o respeito e admiração do grupo. Na verdade, qualquer tuner que se preze tem necessariamente que exibir um poderoso sound system, sob pena de ser o alvo de comentários jocosos no seio da comunidade. Faz todo o sentido ter no interior do veículo uma panóplia de tupperwares sofisticados (chamados woofers e subwoofers) susceptíveis de reunir uma manada de mais de mil watts, porque pode ser sempre preciso abrilhantar as festividades de um qualquer bailarico, caso falhe a luz ou coisa assim. À excepção desta vital função social, não encontro mais nenhuma explicação possível para esse prazer insondável de gramar com a musicalidade própria das obras do Metro do Porto pelo tímpano adentro, fritando o resto do cérebro onde, até ver, ainda se vai registando alguma actividade.

E pronto, portugueses e portuguesas, acho que é tudo por agora. Fico à espera das vossas reacções a esta provocação. Venham de lá esses bilhetes postais para o marco do correio do Hyde Park, santuário do escárnio e maldizer.

(1) Não convém confundir com as exposições de gado que se realizam sensivelmente no mesmo local, sob pena de gerar lamentáveis equívocos; para que o estimado leitor, não confunda as espécies, fica a seguinte mnemónica: as vacas são as que têm mais manchas, os bois têm os cornos maiores e os tuners são os que têm os carros rebaixados.

(2) Dito assim, em estrangeiro, resulta que nem faca quente na manteiga dos corações das pestanejantes damas

(3) Quer o meio envolvente queira, ou não...

(4) Segundo o disposto nos cânones da ITF (International Tuning Federation)

terça-feira, agosto 26, 2003

ASSIM VÃO AS GLÓRIAS DO TUNING – Parte II (é melhor ler primeiro a outra)

Boas noites, portugueses e portuguesas
Geograficamente falando, o.... Espera aí!!! Com que então, tenho que mudar a minha saudação ao auditório deste ciber-pasquim?!!! Já comecei a ouvir bocas reaccionárias denunciando um suposto guterrismo recalcado neste meu endereçar à Nação... Gentinha...Bem, voltemos à descontrução do fenómeno tuning , deixada em banho-maria desde a nossa última amena cavaqueira.

Onde é que eu ia...? Ah, ok... Geograficamente falando, o fenómeno social em análise começou por se evidenciar principalmente nas grandes metrópoles e respectivos subúrbios. Não bastavam já todas as outras doenças sociais, ainda tivemos que aprender a gramar mais uma...No entanto, a "ideologia do boné e da suspensão rebaixada" acabou por se disseminar até aos meios rurais, sendo que mesmo o lugarejo mais remoto terá –além do clássico bar de alterne- um "tunerzito". Por "tunerzito" não se entende nenhuma subespécie de "tuner" anão, mas sim um entusiasta de alma e coração, mas tristemente limitado por condicionantes financeiras. Trata-se de um zelota irredutível, que não se deixa desanimar pela adversidade: tem que "kitar" qualquer coisa no seu veículo, nem que seja o ambientador do habitáculo...Claro está, com aroma a pinho ou maçã "racing", encimando a incontornável imagem de Nossa Senhora.

O que move estes peregrinos em busca da Jerusalém do Alcatrão ou da Área de Serviço Eterna? Uma das explicações possíveis é mais previsível que o final dos "filmes-pipoca-para-toda-a-família" (1) das tardes do fim-de-semana: miúdas. Porém, como vamos ver já de seguida, essa explicação tem qualquer coisa de paradoxal. Se pararmos um minuto para contemplar a fauna do sexo feminino que povoa o universo destes "chaimites-com-saias-de-plástico", veremos que essa hipótese se esvai mais rapidamente que os croquetes e martinis que são servidos nos casamentos, enquanto os noivos acabam de tirar aquelas fotografiazinhas apaixonadas (2) para a posteridade.

Em abono da verdade, as meninas que –regra geral- ocupam o lugar do pendura, não são propriamente um expoente de beleza. Feitas as contas, é muitas vezes necessário juntar vários especimens, por forma a conseguir reunir um exemplar de dentição completa...A boca em forma de "baliza" de formato anatómico, oferece um mundo de possibilidades não negligenciáveis ao "tuner" (3). Importa no entanto frisar que há algumas ovelhas tresmalhadas no meio deste aterro de metal e plástico, meia dúzia de miúdas giras muito mal empregues. Mas enfim, há gostos para tudo. Se há quem aprecie verter cera quente sobre os próprios mamilos, porque não...? Tudo vale a pena, como dizia o poeta.

(1) Estes atentados audiovisuais passam-se inevitavelmente numa colónia de férias à beira de um qualquer lago nos "Estates" , com canoas, pinheiros e uma estudante estrangeira com um deslumbrante suporte peitoral. Como se de um bolo de iogurte se tratasse, estas películas açucaradas contêm incontornavelmente os seguintes condimentos: um puto estúpido, um cão traquina (amigo do puto estúpido) e um atrasado mental que faz de mau da fita, a quem acontece tudo e mais alguma coisa.
(2) Estes momentos azul-e-ouro têm uma banda sonora muito própria, desta feita caracterizado por expressões do género "Ora venha de lá mais um beijinho...click, click", "Agora olhe para a noiva...isso...click...Tente sorrir, por amor de Deus...!!! Click". Noutra esfera, poderemos encontrar casualmente o melífluo despique, em jeito de relato futebolístico:
"-Eu é que gosto mais de ti, coração!!" – dribla a senhora vestida de branco.
"Não, eu é que gosto mais, minha nuvem de algodão-doce!!" – contra-ataca o noivo.
"SOU EU QUEM GOSTA MAIS, MEU TORRÃOZINHO DE ALICANTE!!! E SE NÃO TE CALAS IMEDIATAMENTE, LOGO À NOITE VAI HAVER TRABALHO DE CASA PARA O TEU BÍCIPE DIREITO!!!" Remate cirúrgico, sem a mínima hipótese de defesa. Golo da noiva.

(3) Sobre estas sinergias dentárias, vide Silva, Pedro Da boca balizeira e outras reflexões transcendentais
Dedico estas breves linhas à minha amiga Pica, senhora de dois poderosos braços e de um ainda mais portentoso sentido de humor. Não perca o último episódio da Trilogia Tuning, no sítio do costume.
Boa noite, Ponta Delgada

Hoje vim cá dar um jeito à barraquinha das farturas e aproveito para dizer duas coisas:

Em primeiro lugar, acabei de inaugurar o sebastianicamente aguardado Fórum da Boca Reaccionária. É verdade!!! Basta clicar no "link" do "Comments" e o vosso ultrajezeco aparece miraculosamente impresso no éter. Vá lá, vão ver que não dói nada. Aliás, vou desde já instituir um prémio para a primeira víti...digo, felizardo que queira ver publicada a sua boca, comentário, opinião, quadra popular, anúncio de venda de automóvel, grito de indignação, etc...O primeiro a pôr a carta no marco do Hyde Park ganha o direito a convidar-me (e pagar, claro está) para jantar. Hã, que maravilha de proposta, não é!? Escrevam, façam-se ouvir, porque este espaço terá infinitamente mais interesse quando for enriquecido com as vossas ideias. Imaginem, podemos criar aqui uma pequena comunidade virtual, onde todos podem andar à cabeçada. Fantástico, não é? Mostrem que o 25/04 serviu para alguma coisa. Insultem-me, se for esse o caso. Mas façam-se ouvir.

Em segundo lugar, vim cá deixar um pedacinho de céu escrito por uma tal de Celeste Holm:

"O animal que quase todas as mulheres gostam de se ver revelar nos homens é a marta."

in Manual dos Cínicos, de José Manuel Veiga

segunda-feira, agosto 25, 2003

ASSIM VÃO AS GLÓRIAS DO TUNING – Parte I

Boa noite, portugueses e portuguesas

A vítima, digo tema, desta noite é essa maravilha dos subúrbios, que dá pelo nome de tuning . E o que raio é isso? Pois bem, estamos a falar dessa esperançosa alquimia que visa transformar um pobre Daewoo Matiz num verdadeiro demónio do asfalto, ou, se preferirem, um carapau anémico numa barracuda recordista das 20000 léguas submarinas. A minha ideia é fazer um daqueles documentários à la Canal Odisseia; só que em vez dos animaizinhos e dos indígenas com penachos na cabeça, vamos ter carros cor-de-rosa e gajos com bonés e fio-de-ouro-com-medalinha ao pescoço. Ok, parece que é desta que vou ganhar o cartão da casa do São Francisco Xavier. Bem, já que nunca me deixam entrar na Kapital, sempre é meio consolo...

Desde o clássico Fiat Uno (que Deus o tenha) até ao Porsche topo-de-gama, as "montadas" são alvo da mais revoltante barbárie, ao jeito do gosto e do bolso do verdugo. Sim, é um meio essencialmente masculino, uma espécie de "festa da mangueira" com carros (geralmente) pirosos e um som muito "bum tchibum". Se "o cão é o melhor amigo do homem", não deve ser subestimada a relação que se estabelece entre o tuner e o seu amado veículo. Como acontece com qualquer casal, não é raro ouvir comentários enciumados do género "Olha que eu vi-te a galar o Subaru!!!", ronronados com mágoa pelo motor do cônjuge traído.

Esta seita reúne-se em templos chamados Oficinas de Preparação. Nestes antros de perdição, a concentração de cromos/metro quadrado chega a bater os já formidáveis valores alcançados pelos núcleos de Electrotecnia nas escolas secundárias...Dão pelo nome de Preparadores, os sacerdotes encarregues da realização dos rituais de iniciação na comunidade tuning . Os elementos recém-chegados são tosquiados até ao tutano, numa cerimónia profundamente simbólica chamada "circuncisão financeira". Os olhos esbugalhados e o constante fluxo de saliva são um dos sinais visíveis da veneração que os iniciados nutrem pelo trabalho dos Xamãs do Pistão (outro nome pelo qual são conhecidos os Preparadores).

A montada exige –além de muito amor e carinho- uma miríade de acessórios, em quantidade maior que a encontrada na também recordista malinha de mão de senhora. Ora, vejamos: escape de rendimento, velas especiais, jantes de liga leve, filtros de ar especiais, bacquets (francês para "Deste esse montão de contos de réis por uma merda de um banco???!!!) de competição, rede tuning (para deixar respirar a máquina) e até mesmo um insuspeito tapete para os pés.

Até já estou até a imaginar o paleio do vendedor: «Sabe, este não é um tapete qualquer. Na verdade, o artigo que tenho nas mãos dispõe de uma capacidade de armazenagem e dissipação de pó, dez vezes superior à de uma vulgar carpete de sala de estar. A tecnologia "ácaro-free" permite ao piloto concentrar-se na condução, confiante no escudo invisível que aparta os seus pés dos perigosos microrganismos. Este expoente de tecnologia têxtil foi desenhado num túnel de vento e submetido às mais duras condições por forma a garantir estabilidade e conforto a toda a prova. Você não vai acreditar, mas estes 600 centímetros quadrados são, nem mais nem menos, o tapete oficial da NASA!!!!»

Neste momento, a marcha do Tempo pára. Os olhos do tuner faíscam como relâmpagos, mais ainda que os da Margarida Martins em frente da montra de uma pastelaria. O nosso herói rejubila, sabendo-se de antemão o alvo da mais profunda inveja de todo o clã, regressado ao acampamento com uma imponente peça de caça às costas. Esse evento memorável (mais ainda que o afamado espectáculo do Tony Carreira no Olympia de Paris) produziria inevitavelmente reacções do género: «Man!!! O tapete oficial da Nasa??!!!! F**a-se!!! (loooonga pausa) (...) Mas...ó Ricky, meu irmão...essa Nasa...é a tua dama...?»

O vocabulário usado dentro destas comunidades tende a revelar-se algo rudimentar, sendo que a comunicação assenta basicamente em expressões avulsas como "minha dama", "racing", "Vêm aí os ******-**-**** da Brigada!!", "racing", "Comia-te toda!!!" , "racing", "ratérada", "racing" e o já mítico "F***-se!!! G´anda som!!!" Há outro leque de expressões que tende (infelizmente) a relacionar-se umbilicalmente com o fenómeno tuning. Entre as mais vulgares encontramos clássicos como "Unidade de Desencarceramento", "Unidade de Cuidados Intensivos", "0RH negativo" e "prótese".
Não perca as cenas dos próximos capítulos, num ecrã perto de si.

quinta-feira, agosto 21, 2003

"E O NECAS QUE JULGOU QUE ERA CANTORA..."
Boas noites, portugueses e portuguesas
A minha breve ausência deste fórum esteve directamente relacionada com uma agradável estadia numa estância hoteleira da capital. Coisa barata e requintada, com uma excelente vista para os cacilheiros. Serviço de quartos esmerado. Cinco estrelas. A bem dizer, estive a fazer umas mini-férias nos Cuidados Intensivos do São Francisco Xavier, fruto de um amistoso "tête-à-tête" com um grupo de admiradores desse Belzebu-do-bigodinho, o senhor Abrunhosa.
Antes de começar o fogo-de-artifício, queria só dizer que estou a pensar criar um "Correio do Leitor", publicando os comentários de quem assim o quiser. Claro está, se eu não gostar do teor das bocas, tenho a faca e o flamengo na mão...Bem-aventurada essa instituição salazarenta que é a censura, santa padroeira das entes com poderes editoriais.
Então não é que fui acusado de praticar um "linguajar requintado de p**a de 5 contos"? A bem dizer, não faço ideia dos honorários praticados pelas profissionais do ramo, embora tenha uma ideia muito concreta do requinte e sofisticação do latim empregue pelas mesmas. Prometo desde já corrigir essa lacuna imperdoável numa próxima edição. Ai, o que eu não faço pelo meu auditório, valha-me Deus... Agora que falamos nisso, caso viesse a arrendar o meu real coiro, nunca cobraria menos de trinta milenas. No mínimo. Para que conste.
Isto faz-me lembrar a única vez em que fui abordado, na Avenida da Liberdade, às três da manhã, numa gélida noite de Dezembro. Ah, e as folhas caíam. Sucede que uma senhora de vestes minimalistas se acerca da minha pessoa e –mercê de um marketing directo e agressivo- se propôs embaciar as lentes dos meus óculos através de um método bestialmente original. E vamos ficar por aqui, enquanto ainda me restam pelo menos dois vinténs de pudor. Adianto apenas que fiquei perturbado com a simples visualização mental da proposta e ainda hoje tenho pesadelos horríveis, onde um Gremlin de "tigresse" e peruca loura (ou seria a Odete Santos...? já não me lembro) me tenta lançar um jacto de vapor de água à cara. Acordo a suar, apressando-me a verificar se as minhas lentes ainda conservam a sua virginal transparência...
Mas chega de conversa sobre mulheres da vida, porque este é um blogue de boas famílias e estrutura moral férrea, fazendo questão de se pautar por um conteúdo edificante e promotor de sólidos e intransigentes valores tradicionais. E prometo que nesta tribuna, a língua portuguesa, o regime monárquico e os demais baluartes da Nação serão sempre...Eh, pá!! O que é que se passou aqui?! Está visto que o espírito de direita que há em mim voltou a fazer das suas. Enfim, já passou, graças ao meu kit de emergência: uma foice e um martelito de madeira, prontinhos a sanar qualquer exuberância direitista. No entanto, rapaziada, quero deixar um sério aviso à navegação: cuidado ao abrir essa tenebrosa porta dimensional e trazer cá para fora o Paulo Portas que há em cada um de vós; com efeito, estudos recentes comprovam que sete em cada dez portugueses passam subitamente a ganhar uma especial apetência por chiffon e plumas, calcorreando esses cabarets lisboetas como glamorosas e sedutoras Rainhas da Noite. Atrevo-me a citar o Sérgio Godinho, na sua "Lisboa que amanhece":

"E o Necas que julgou que era cantora, que as dádivas da noite são eternas...
Mal chega a madrugada, tem que rapar as pernas,
Para que o dia não traia
Dietriches que não foram nem Marlenes..."

Entre duas simpáticas notícias envolvendo homicídios entre famílias ciganas e tráfico de órgãos, li no Correio da Manhã que se espera um "baby-boom" no Canadá, daqui a coisa de nove meses. Está-se mesmo a ver: culpa do apagão. Se a moda pega em Portugal, quase apostava que a típica carantonha matinal lusitana passa a espécie em vias de extinção...Já imagino os diálogos:
"-Bom dia, sra. Dra.?!! Está com muito boa cara!!"
"-Ah, sabes, ando a tomar umas injecções..."
Oh, sim, aquilo é seria boa disposição e amor fraternal no escritório...Mas não brinquemos com coisas sérias, pois anda para aí uma organização terrorista de cegonhas-kamikaze, apostada em fazer em fanicos a rede eléctrica nacional. Ah, pois!!! Mas a mim, ninguém me cala!!!

quinta-feira, agosto 14, 2003

DEZ RAZÕES PARA NÃO SUPORTAR O PEDRO ABRUNHOSA
Boas noites, portugueses e portuguesas
Antes de mais (e para responder a algumas bocas mais venenosas que uma reunião Tupperware de cobras-capelo) eu fabrico estas modestas missivas a horas supostamente impróprias porque trabalho até à meia-noite e é quando tenho tempo para o fazer. Aproveito para desfazer também esse outro equívoco: não, não trabalho em nenhuma linha gay, nem nada que se pareça. Trata-se apenas de dar dois dedos de conversa a um ou outro cavalheiro à procura do calor de uma voz afável, uma espécie de farol no negrume das intermináveis noites de solidão. Só isso. Há gentinha muito mal intencionada, sem dúvida.
Mas não foi isto que me trouxe a esta tribuna. Com efeito, vim apenas encetar uma breve reflexão sobre a figura do Pedro Abrunhosa.
É verdade, faço parte dessa imensa minoria que nutre um carinho muito especial por este senhor, uma espécie de "Nossa Senhora do Vinil", ou coisa que o valha. Deus me perdoe a metáfora. Gostaria imenso de se ver revestido da aura do "verdadeiro artista", mas acaba por produzir uma pose mais artificial que o Sunny Delight, já de si senhor de uma invejável bíblia de corantes e conservantes. Mas sobre essa mixórdia conversamos outro dia, que eu não me posso dar ao luxo de desviar a anti-aérea do prato do dia.
E pensar que aquela voz de alguém que gostaria muito de ser confundido com o Nick Cave já vendeu tanto disco... O filão já foi esgotado há muito: tivemos toda uma fornada de "franciús" a trautear aquelas melodias capazes de fazer adormecer um adolescente viciado em «ecstasy» e passar que nem faca em manteiga nos corações das jovens da época. O nosso Vitor Espadinha constitui um excelente exemplo desses tempos áureos, encantando (leia-se comendo) toda uma geração de mulheres com o seu trinar, não raras vezes mãe e filha do mesmo clã. O que interessa é que a coisa resulta; porque não ressuscitar esse elixir poderoso? E foi o que o nosso herói fez.

Lembro-me do "Viagens" (o primeiro álbum, para quem não se lembre) como se fosse hoje. A malta sabia de cor e às arrecuas aquela do "Tudo o que eu te dou". Dava um jeitão levar as amigas à praia e debitar aquele pré-fabricado lírico, dando uma de "gajo bué sensível".

O modus operandi já estava mais que delineado e assemelhava-se a uma operação militar. A saber:
#1 pôr a tocar o cd em análise
#2 manobrar com o clássico "o brilho do luar na água lembra-me os reflexos argênteos do teu cabelo", mais devastador que a táctica do quadrado em Aljubarrota (n.d.r. não avançar em cunha com o arriscado "Então, bute?", sob pena de comprometer toda a operação)
#3 declamar a referida peçonha lírica ("Tudo o que eu te dou") com olhinhos à Tony de Matos (marca registada), resultando num infalível efeito debilitante do inimigo, deixando o espaço aéreo à mercê de um voo de reconhecimento bem próximo do solo
#4 aproximação progressiva da mão à perna do alvo, desembarcando no ponto pré-fixado e removendo à sua passagem eventuais obstáculos à progressão da infantaria, como fechos, molas, elásticos, etc...
#5 Capture the flag (bem...é como quem diz...esta, vou deixar à imaginação do estimado leitor)

Então não é que depois de tudo isto, ainda tenho a lata de vir dizer que fui a um concerto desse cavalheiro.... !!!??? Pequei, irmãos, é a mais pura verdade. Tinha menos uns quantos anos em cima e, em abono da verdade, era um bocado cromo. Ainda hoje guardo com um afecto paternal o bonequinho de palha com a efígie do amigo que me convidou, religiosamente acompanhada de um caixinha de agulhas.

P.S. – Acabo de ouvir na rádio uma música do Olavo Bilac (Santos&Pecadores). Volta, Pedrinho, estás perdoado...

sábado, agosto 09, 2003

AS PATILHAS DO SENHOR ENGENHEIRO E OUTRAS HISTÓRIAS
Boas noites, portugueses e portuguesas.
Então não é que vão calar o bico a essa personagem incontornável da televisão portuguesa, o Carlos Pinto Coelho??!!! O homem já fazia televisão antes da chegada dos mamíferos ao planeta e agora querem empurrá-lo da cadeira, como se fosse um Salazarzito da Cultura a precisar de reforma. Querem acabar com o Acontece, vá-se lá saber. Como diria um inflamado (e carregadinho de razão) adepto do Benfica, em relação à demolição da Catedral da Luz: "Qualquer dia deitam abaixo os Jerónimos!!!!". Pois muito bem, isto seria um ultraje tão grande como proibir o Prof. Hermano Saraiva de educar as nossas criancinhas com as suas didácticas estórias de Portugal, num programa mais saturado de teor educacional que as garrafas daquela trampa do Gud. Sim, essa laranjada pastosa. A verdade é que o velhote lá vai impingindo a cassetezita, uma espécie de Testemunha de Jeová a querer vender as virtudes do Portugal antigo. Sim, porque a História morreu a 25/04 (não parece bem falar à boca cheia do 25 de Abril; é coisa de possidónio), depois disso a Terra Média mergulhou nas mais profundas Rubras Trevas, nas mãos dos senhores-comedores-de-criancinhas. Não, não era nenhuma piada sobre a Casa Pia, estava mesmo a falar dos comunistas.
Em abono da verdade, até hoje nunca recuperei do choque que foi o desaparecimento desses dois touros das lides televisivas: Vasco Granja e o Eng. Sousa Veloso.
Que saudades das patilhas esvoaçantes do engenheiro, uma referência incontornável no imaginário infantil. Era chato porque ocupavam uma parte considerável do ecrã, sobrando apenas um nichozito para a cotação dos ovos extra-A, no sobe-e-desce frenético do mercado avícola, esse Dow Jones à moda de Benavente. Dava um jeitaço à criançada saber da altura mais indicada para semear couve-nabo e outros transcendentes filhos do ventre da Mãe-Terra. OHHH!!!! MíLDIO, VOLTA!!! ESTÁS PERDOADO, ESCARAVELHO DA BATATA!!! Ainda me recordo das searas bruxuleantes e do efeito soporífero dos directos da Feira de Gastronomia de Santarém. Enfim, por alguma razão demos numa geração de cromos que falam destas idiotices com um timbrezinho saudosista.
E que dizer da frondosa careca do senhor Granja, uma espécie Taj-Mahalzinho cintilante? Aquele arzinho paternal com que se dirigia à meninada e os óculitos na pontinha do nariz faziam lembrar o Pai Natal, brindando-nos com interessantes e educativos desenhos animados de um qualquer autor polaco, tipo Malkiewicicz, Kostragjilkewicz, ou coisa do género. Aquilo é que era um banho de cultura nas manhãs de fins de semana.
Agora querem dar de comer aos peixes o último dos baladeiros. Tanta gente simpática que nunca mais morre -como o Júlio Isidro, o Nicolau, o Carlos Ribeiro- porque é que não deixam o velhote em paz?
No impuerta (sim, Rita, esta é para ti), toca a bombardear impiedosamente o e-mail da RTP (opiniao@rtp.pt) e chamar nomes aos gajos.
Não deixem morrer a utopia. "E assim acontece".

PS - Já agora, não deixe de contribuir para o fundo humanitário "André nas Maldivas", depositando o seu donativo na conta 01837438295793 da CGD. Não fique indiferente a este drama, abra o seu coração.

Baú