quinta-feira, agosto 14, 2003

DEZ RAZÕES PARA NÃO SUPORTAR O PEDRO ABRUNHOSA
Boas noites, portugueses e portuguesas
Antes de mais (e para responder a algumas bocas mais venenosas que uma reunião Tupperware de cobras-capelo) eu fabrico estas modestas missivas a horas supostamente impróprias porque trabalho até à meia-noite e é quando tenho tempo para o fazer. Aproveito para desfazer também esse outro equívoco: não, não trabalho em nenhuma linha gay, nem nada que se pareça. Trata-se apenas de dar dois dedos de conversa a um ou outro cavalheiro à procura do calor de uma voz afável, uma espécie de farol no negrume das intermináveis noites de solidão. Só isso. Há gentinha muito mal intencionada, sem dúvida.
Mas não foi isto que me trouxe a esta tribuna. Com efeito, vim apenas encetar uma breve reflexão sobre a figura do Pedro Abrunhosa.
É verdade, faço parte dessa imensa minoria que nutre um carinho muito especial por este senhor, uma espécie de "Nossa Senhora do Vinil", ou coisa que o valha. Deus me perdoe a metáfora. Gostaria imenso de se ver revestido da aura do "verdadeiro artista", mas acaba por produzir uma pose mais artificial que o Sunny Delight, já de si senhor de uma invejável bíblia de corantes e conservantes. Mas sobre essa mixórdia conversamos outro dia, que eu não me posso dar ao luxo de desviar a anti-aérea do prato do dia.
E pensar que aquela voz de alguém que gostaria muito de ser confundido com o Nick Cave já vendeu tanto disco... O filão já foi esgotado há muito: tivemos toda uma fornada de "franciús" a trautear aquelas melodias capazes de fazer adormecer um adolescente viciado em «ecstasy» e passar que nem faca em manteiga nos corações das jovens da época. O nosso Vitor Espadinha constitui um excelente exemplo desses tempos áureos, encantando (leia-se comendo) toda uma geração de mulheres com o seu trinar, não raras vezes mãe e filha do mesmo clã. O que interessa é que a coisa resulta; porque não ressuscitar esse elixir poderoso? E foi o que o nosso herói fez.

Lembro-me do "Viagens" (o primeiro álbum, para quem não se lembre) como se fosse hoje. A malta sabia de cor e às arrecuas aquela do "Tudo o que eu te dou". Dava um jeitão levar as amigas à praia e debitar aquele pré-fabricado lírico, dando uma de "gajo bué sensível".

O modus operandi já estava mais que delineado e assemelhava-se a uma operação militar. A saber:
#1 pôr a tocar o cd em análise
#2 manobrar com o clássico "o brilho do luar na água lembra-me os reflexos argênteos do teu cabelo", mais devastador que a táctica do quadrado em Aljubarrota (n.d.r. não avançar em cunha com o arriscado "Então, bute?", sob pena de comprometer toda a operação)
#3 declamar a referida peçonha lírica ("Tudo o que eu te dou") com olhinhos à Tony de Matos (marca registada), resultando num infalível efeito debilitante do inimigo, deixando o espaço aéreo à mercê de um voo de reconhecimento bem próximo do solo
#4 aproximação progressiva da mão à perna do alvo, desembarcando no ponto pré-fixado e removendo à sua passagem eventuais obstáculos à progressão da infantaria, como fechos, molas, elásticos, etc...
#5 Capture the flag (bem...é como quem diz...esta, vou deixar à imaginação do estimado leitor)

Então não é que depois de tudo isto, ainda tenho a lata de vir dizer que fui a um concerto desse cavalheiro.... !!!??? Pequei, irmãos, é a mais pura verdade. Tinha menos uns quantos anos em cima e, em abono da verdade, era um bocado cromo. Ainda hoje guardo com um afecto paternal o bonequinho de palha com a efígie do amigo que me convidou, religiosamente acompanhada de um caixinha de agulhas.

P.S. – Acabo de ouvir na rádio uma música do Olavo Bilac (Santos&Pecadores). Volta, Pedrinho, estás perdoado...

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Baú