sexta-feira, outubro 17, 2003

E SE UM DIA EU ESCREVESSE QUALQUER COISA SÉRIA...?

Tem piada, como é infinitamente mais fácil confidenciar certo tipo de coisas ao Mundo, do que a uma pessoa em particular. Umazinha. É tão simples abrir uma janela para a alma, sem quaisquer controlos aduaneiros, onde qualquer estranho pode entrar, conhecer, perscrutar, remexer, tudo nos domínios indefinidos do ciberespaço. Sem compromissos, de forma impessoal. Inócua. Como é conveniente e cómodo o refúgio na multidão, diluindo-se a força de palavras tão concretas e pesadas numa espécie de tímido e inofensivo infinitésimo. Qualquer um se pode dar ao luxo de o fazer.
Até eu.
Agora, interagir com alguém que está ali a dois passos, isso é muito mais complicado. Nada tão delicado como as relações humanas e as pessoas reais. Face a face, sem o escudo protector, a coisa fia muito mais fino.
Isto do escrever –seja a palhaçada do costume ou qualquer coisa um bocadinho mais séria- tem para mim qualquer coisa de profundamente libertador. Coisas do efeito exorcizador do teclado. Diz este gajo aqui em baixo...:

"Deste modo ou daquele modo,
Conforme calha ou não calha,
Podendo às vezes dizer o que penso,
E outras vezes dizendo-o mal e com misturas,
Vou escrevendo os meus versos sem querer,
Como se escrever não fosse uma coisa feita de gestos,
Como se escrever fosse uma coisa que me acontecesse
Como dar-me o sol de fora."

Poemas de Alberto Caeiro/Obras Completas de Fernando Pessoa

Hoje deu-me para isto, o que é que se há-de fazer...? Prometo que o Parque vai voltar à linha editorial do costume, dizendo mal de tudo e toda a gente. Catita. Aí, sim, já as engrenagens do Cosmos poderão voltar ao trilho do costume e tudo voltará a fazer sentido novamente. Como se quer, não é verdade?

Beijinhos e abraços para toda a imensa minoria que me lê, ouve e encara face a face...Toda.


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Baú