domingo, fevereiro 27, 2005

OLHAR BEM PENETRANTE

Voltando a Imprimatur -O Segredo do Papa, segue o segundo e último simpático excerto. Nesta breve passagem, vamos encontrar o aprendiz de estalajadeiro em amena cavaqueira com o abade Atto Melani, este último desancando forte e feio na imagem até então impoluta da Rainha de França:

“-Monacal? –disse Atto, por fim – Eu não usaria esse termo – retorquiu manhosamente. E explicou-me que Devizé me tinha descrito um quadro talvez demasiado imaculado da defunta Rainha de França. Em Versalhes, ainda era possível encontrar uma jovem rapariga mulata, que se assemelhava curiosamente ao Delfim. A explicação de tal prodígio remontava a vinte anos atrás, quando os Embaixadores de um Estado Africano tinham ficado alojados na Corte. Para manifestar a sua devoção à consorte de Luís XIV, os Embaixadores tinham doado à Rainha um pajem preto de nome Nabo.

Alguns meses mais tarde, em 1644, Maria Teresa deu à luz uma menina forte e graciosa de pele preta. Assim que se deu o prodígio, Félix o cirurgião real, jurou ao Rei que a cor da recém-nascida era um inconveniente transitório, devido à congestão do parto. Com o passar dos dias, porém, a pele da menina não ficou mais clara. O cirurgião real disse então que talvez os olhares demasiado insistentes de algum preto da corte tivessem danificado a gravidez da Rainha. «Um olhar» replicara o Rei. «Deve ter sido bem penetrante!»

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