terça-feira, julho 12, 2005

ADULTOS À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS...

Não há nada mais arreliante que um passatempo. Que o diga o meu amigo "Joel". Chamemos-lhe "Joel", para não ser identificado na rua, ok?

Aconteceu que no cafézinho pós-almoço dominical foram lançados para a mesa meia dúzia de enigmas numéricos, desses de fazer torrar a paciência a, quem como eu, tem a capacidade para raciocínio abstracto de um siamês. Dos mais lerdos.

O problema consistia no seguinte:
Temos nove bolas em jogo, sendo que uma delas é mais pesada que todas as restantes. Podemos fazer duas pesagens (numa balança à antiga, com dois pratos). Qual é a mais pesada?

Sem mais demoras, a solução passa por dividirmos as bolas em TRÊS grupos de TRÊS bolas e começar a partir daí, três a três na primeira pesagem.

O meu amigo "Joel" (por sinal, ilustre professor universitário) deitou logo mente à obra e avançou sem temor para o primeiro obstáculo:

"-Isto é muito simples" - afirmou com a convicção e autoridade próprias de um soldado da GNR de Albufeira a entrar na adega de um empreiteiro.
"Pomos QUATRO num prato e QUATRO no outro e sobra uma" - continuou. "Se os pratos estiverem equilibrados, a que ficou de fora é a mais pesada, obviamente."

Pois...até aqui, todos de acordo. A história continua. O nosso "Joel" vai entretanto articulando raciocínios cada vez mais elaborados:

"Estamos perante um logaritmo de base 2" -continuou maravilhando as massas boquiabertas. "Isto seria verdade, se estivéssemos a trabalhar com linguagem binária" - acrescentou ainda com inequívoca propriedade.

Porém, como peixe apanhado na rede, o seu esforço é vão. Debate-se furiosamente na malha do seu raciocínio, como se de um tubarão encurralado se tratasse. Tentou,
à desgarrada, bombardear o problema com quilos de teoremas, corolários e axiomas, como se de uma Amália regressada do Além se tratasse, inexplicavelmente possuída por uma vontade louca de fazer contas de cabeça.

A coisa foi-se arrastando, de forma agonizante, até que um dos intervenientes ventilou acidentalmente a resposta, dando por terminada a querela. Mas a coisa não ficou por aqui. Seguiu-se outro problem, sucedendo que o nosso herói resolveu embirrar com o enunciado do problema, desta feita exigindo uma clarificação sobre o significado do verbo "mexer".

Depois de meia dúzia de tentativas de resolução, exclama já com o rosto já rubro:

"-Tens a certeza que o enunciado está bem?
Isto não pode ser assim!". Mas podia. E era.

No seguimento deste episódio, fecho a postada com uma tira do "Calvin": acampando com a família nas férias, o jovem passa todo o dia a arreliar os pais com questões irrelevantes, enquanto estes tentam, em vão, pintar um quadro, ou, simplesmente, ler o jornal em paz e sossego.

"-Desaparece, Calvin!!" - vocifera a mãe, já completamente farta das interrupções constantes.

Conclui o jovem no alto da sua sabedoria:

"Os passatempos deixam os adultos muito nervosos".

Está visto que é verdade.







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