domingo, julho 03, 2005

MUITA PARRA, POUCA UVA...

Aproveitando a minha inesperada visita ao consultório, a médica de família aproveitou para me mandar testar todos e mais alguns dos mais longínquos recantos do corpo. Quer dizer, todos, não: há por aí mundos remotos onde não tem nada que entrar sonda, seja espacial, ou de outro tipo qualquer...

Em abono da verdade, já não metia lá os pés fazia um certo tempo. Falámos de tudo e mais alguma coisa que se passou neste longo interregno: a queda do Muro de Berlim, o tempo em que o Herman tinha piada e ainda se esforçava por disfarçar a panasquice, a barba do Jorge Coelho, etc, etc, etc... Enfim, coisas que já lá vão.

Abandonei o consultório munido de duas resmas de papel verde-e-branco. Estavam ali acotoveladas credenciais que me permitiam saber novas dos meus colesteróis, verificar a minha reacção à não-sei-quantos-tropina e adquirir parcelas de terreno em Marte a preços módicos.

A meio destes Doze Trabalhos, saiu-me na rifa o mítico Electrocardiograma.

Nunca me tinha sujeitado a semelhante coisa, pelo que a expectativa era grande. Já me estava a ver rodeado de coisas obscuras como um "monitor de sinais vitais", ecrãs LCD nas paredes com fios de várias cores e feitios. Esmagado pelo manancial tecnológico disposto na sala, seria então ligado dos pés à cabeça com eléctrodos e seguidamente amarrado por duas enfermeiras nórdicas insaciáveis que...´pera lá, já estou a misturar as histórias, é o que é.

Estava eu a dizer que imaginava uma enfermeira, que, num tom de voz quente e meigo, fazia os possíveis para me acalmar e preparar para uma experiência capaz de fazer tremer qualquer marujo de barba rija.

Isso imaginava eu. Eis o que realmente aconteceu:

Uma senhora bestialmente apessoada (coisa aí para 10 arrobas, mais ou menos) e mal encarada fez-me meia dúzia de perguntas, mandou-me despir da cintura para cima e deitar-me numa marquesa, de peito virado para o tecto. Espetou-me meia dúzia de ventosas embebidas em gel pelo peito acima, pôs-me uma espécie de molas da roupa XL nos pés e...acabou. Passados 30 segundos, a nossa relação terminou.

"-Tem papel na mesa, se quiser limpar isso..." - disse ela sem pontinha de sentimento na voz.

Levantei-me, limpei a substância viscosa que me besuntava o torso e vesti timidamente o farrapito que havia trazido. Apercebi-me que fora apenas mais um naquela marquesa. E nem sequer um beijo levei.

A vida segue dentro de momentos.

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